São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 1997
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Por que a gente é um número?

FERNANDO BONASSI
ESPECIAL PARA A FOLHINHA

Hoje minha mãe comprou pão, queijo e fez sanduíche. Só que não é pro recreio, nem é pro lanche que a gente toma de tarde.
Ela fez também uma garrafa térmica inteirinha de café, mas não é pra agora.
Então ela pegou uns cobertores, mas não vai arrumar a cama.
Aí ela tirou as cadeiras de praia de cima do guarda roupa, mas ninguém daqui vai ver o mar.
Agora mesmo ela tá acendendo uma vela na frente da estátua do São Judas, que sempre ajuda ela nas coisas bem difíceis. Mas hoje também não é o dia de São Judas...
Hoje é o dia da fila.
A gente vai dormir na porta da escola, pra ver se eu posso estudar lá. Amanhã eles dão um papelzinho e, se o número do papelzinho for baixo, eu posso estudar lá.
Mas por que tem que ser assim? Eu sei que vai ser uma noite diferente... eu nunca vi o dia amanhecer na rua. Vai ser a minha primeira vez.
Eu sinto que ia ser divertido até, se os meus pais não estivessem tão preocupados. É, porque eles estão... estão preocupados com o que é que vai ser de mim, se aquele número não for bem baixinho...

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