São Paulo, sábado, 18 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Livros de bolso reconquistam editoras

ERIKA SALLUM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em 1997, o livro de bolso brasileiro reassume um lugar de destaque nas livrarias do país.
As editoras L&PM, Scrinium, Imaginário, Mercado Aberto e Rocco estão lançando coleções de "pocket books", acreditando em uma fórmula simples e atraente: grandes nomes da literatura universal a preços populares, que, em média, não ultrapassam R$ 3,50.
O "boom" desse formato de livro, que já consagrou a Brasiliense na década de 80, com a série Primeiros Passos, recomeçou em agosto de 1996, quando Paz e Terra e Ediouro colocaram novas coleções no mercado.
Os resultados se mostraram lucrativos e, até agora, a coleção Leitura (Paz e Terra) já vendeu cerca de 200 mil exemplares, e a Clássicos de Ouro (Ediouro), 101.509 -tiragens excepcionais para padrões brasileiros.
"Textos curtos, conteúdo de qualidade, letras grandes e preço acessível são os ingredientes básicos que motivam o público", explica Roque Jacoby, editor da Mercado Aberto.
A editora gaúcha inaugurou em novembro a coleção "Pequenas Grandes Obras", com autores que variam do argentino Mempo Giardinelli ao brasileiro Simões Lopes Neto. Preço: R$ 3.
Variedade, aliás, tem sido a palavra de ordem na tentativa de ampliar o perfil do consumidor.
Para março, a Rocco promete iniciar uma série de clássicos de meditação. Dois títulos já estão definidos: "O Espírito do Tao" e "I Ching", ambos de Thomas Cleary.
A novíssima Imaginário investe no erotismo com a série "Sátiros e Bacantes", começando com "Contos Libertinos", do Marquês de Sade, e "As Façanhas de um Jovem Don Juan", de Apollinaire.
Os dois volumes estarão disponíveis, a partir de segunda, em livrarias e bancas de jornal, a R$ 3,50.
"Se os colocássemos à venda só em livrarias, não daria para cobrar esse preço", afirma o editor Plínio Augusto Coelho.
"O público tem certa inibição em entrar numa livraria, o que não acontece em bancas", completa Manuel da Costa Pinto, editor da Scrinium, que inaugurou a série "Canto Literário" (R$ 3,60).
Plano Real
A multiplicação dos "pocket books" no Brasil não significa que o mercado editorial esteja bem das pernas.
Segundo Coelho, da Imaginário, é exatamente o contrário: "Há alguns anos, vendia-se muito mais do que hoje, e as tiragens eram maiores. Com o Plano Real, ocorreu um estrangulamento do mercado".
A saída para a crise foi baixar o preço dos livros. Em meio à concorrência, a beleza da obra também passou a ser levada em conta.
Foi-se o tempo em que livros de bolso eram sinônimos de capas feias e impressões desbotadas.
Diversas editoras optaram pelo papel pólen, amarelado e de qualidade superior ao papel jornal (bastante comum em publicações de bolso). As capas são coloridas e têm acabamento mais refinado.
"As pessoas, em geral, passaram a ter um critério extremamente seletivo", constata Ivan Pinheiro Machado, editor da L&PM, que lança este mês a coleção "Pocket".
As sofisticações estéticas, no entanto, acabam encarecendo o produto. Os "pockets" da Ediouro, em papel-jornal, são os mais baratos: R$ 1,80.
Domínio público
Para baratear os custos, os editores usam táticas como escolher textos de autores que já caíram em domínio público, não precisando pagar direitos autorais.
Outra alternativa é a utilizada pela L&PM. Entre os 100 títulos da "Pocket" que promete publicar em 1997, cerca de 40 são relançamentos de seu acervo.
Além disso, em geral, as editoras rodam as coleções em tiragens elevadas, que ultrapassam 7.000 exemplares.
A L&PM é exceção, investindo não em estoque, mas em tecnologia, imprimindo seus livros a laser, método que, segundo Machado, é mais barato e prático: "Podemos imprimir nossos títulos de acordo com a demanda".

Texto Anterior: Béjart prova que mantém fôlego criador
Próximo Texto: Confira alguns títulos de "pocket books"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.