São Paulo, terça-feira, 21 de janeiro de 1997
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Forman recebe prêmio por "Larry Flynt"

ELAINE GUERINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Milos Forman passou os últimos sete anos à procura de um roteiro que mexesse com a consciência do público. Encontrou em "O Povo contra Larry Flynt" uma forma de abordar a liberdade de expressão, contando a história de um dos homens mais desprezados dos EUA.
A conturbada trajetória do milionário Larry Flynt, fundador da revista pornográfica "Hustler", acaba de render mais um prêmio ao cineasta tcheco. Ganhador de dois Oscar por "Um Estranho no Ninho" e "Amadeus", Forman levou anteontem o Globo de Ouro de melhor diretor.
Em entrevista exclusiva à Folha, concedida em Los Angeles, o diretor fala sobre o novo trabalho, sobre pornografia e o período de afastamento. "O Povo contra Larry Flynt", que traz Woody Harrelson no papel-título e Courtney Love na pele de uma stripper viciada em drogas, estréia no Brasil no dia 7 de março.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
*
Folha - Por que você hesitou em ler o roteiro de "Larry Flynt"?
Forman - Quando li a sinopse, pensei que se tratava de uma produção pornográfica. Só dei uma olhada no roteiro após receber um telefonema do agente Robert Lantz, que me pediu para lê-lo em cortesia a Oliver Stone. Até então eu não sabia que ele era o produtor. Quando li, fui completamente absorvido e percebi que era isso mesmo que estava procurando. Uma história que pudesse mudar o julgamento que o público faz de alguém.
Folha - Como encara as críticas por ter transformado Larry Flynt em uma espécie de herói?
Forman - Eu estou sendo atacado por glorificar um pornográfico da mesma maneira como eu fui acusado de desonrar a imagem de Mozart em "Amadeus". Na verdade, o que eu fiz foi apenas incluir a outra metade de cada pessoa.
Tudo o que se sabia sobre Mozart era que ele compunha músicas maravilhosas, e eu revelei seu lado obscuro. O mesmo acontece agora com Flynt. As pessoas só conheciam seu lado obsceno e não tinham idéia do seu papel importante na luta pela liberdade de expressão. As pessoas podem não gostar do que ele fazia, mas têm de reconhecer seu espírito de lutador.
Folha - Você já leu "Hustler"?
Forman - Nunca comprei um exemplar. Desde criança, fui condicionado a ver pornografia como uma coisa ruim e ainda vejo. Fico constrangido ao ver revistas assim. Folha - Qual foi a reação de Flynt ao ver o filme?
Forman - O que me disseram foi que ele chorou durante as cenas com a mulher (Althea Leasure morreu em 1987, vítima de Aids). Ele é um homem sensível, outra coisa que poucas pessoas sabiam.
Folha - Como Courtney Love se comportou durante as filmagens?
Forman - Algumas pessoas não acreditavam que ela teria um comportamento profissional. Tenho de admitir que ela foi maravilhosa, tanto como atriz quanto como pessoa. Ela não teve medo de se entregar ao papel. Fez isso de uma maneira até inocente.
Folha - Você diria que Courtney apenas interpreta ela mesma?
Forman - Não. Ela simplesmente usou sua personalidade para criar Althea. Vejo os comentários de que ela estaria interpretando a si mesma no filme de forma positiva. É um sinal de que o papel tem vida. Folha - Por que você ficou sete anos sem dirigir?
Forman - Acabei me envolvendo com projetos que não deram certo para mim (como "Assédio Sexual"). Eu lia cerca de dez roteiros por semana, mas nenhum me chamava a atenção. Procurava algo que fugisse um pouco dos padrões de Hollywood.

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