São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 1997
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Bilhões de gols

JANIO DE FREITAS

A par da já conhecida e patriótica finalidade de salvar, com os bilhões do Banco Central, a riqueza de alguns banqueiros, antes que consumidas pelo estouro de seus bancos e de suas fraudes, mais uma prova da necessidade deste socorro governamental é agora oferecida à opinião pública e, em particular, aos que recusaram sua simpatia aos esbanjamentos do Proer.
O caso do Banco Econômico, aquele da Bahia que inaugurou a série de intervenções caridosas do Banco Central, só foi encerrado porque o governo acabou fazendo todas as concessões e dando todos os estímulos exigidos pelo Banco Excel para ficar com a parte boa do banco estourado. Quanto foi gasto pelo governo, de fato, ao ficar com a denominada parte podre do Econômico e, ainda, em dinheiro posto para realizar a venda, isto o Banco Central não revela. Não há de ser por outro motivo senão para honrar sua natureza de caixa preta do governo, na qual tudo o que seria punível pode acontecer sem punição.
Sejam quantos forem os bilhões, constata-se que sem tais gastos do governo o Excel não poderia comprar o Econômico nem, agora, faria outras compras não menos interessantes. Uma, no valor de R$ 5 milhões. Outra, de perto de R$ 4 milhões. A primeira, de uma mercadoria chamada Túlio, como contribuição do Excel ao time do Corinthians. A segunda, de um produto chamado Bebeto, para ilustrar um pouco o time do Vitória, baiano como o Econômico.
Só no patrocínio do Corinthians, pelo que informam os repórteres esportivos, o Excel deve gastar, neste ano, R$ 35 milhões. Bem que podia demonstrar sua gratidão e mandar inscrever nas camisas o nome, também, do Banco Central. Mais justo, até, seria inscrever só três letras: FHC. Não, nada disso: para mostrar-se grato, mesmo, uma palavra diria tudo -Reeleição.
O autor do Proer merece.
Sem remédio
O problema é que ele fala. Não fosse assim, Antonio Kandir seria apenas mais um ministro, coisa perfeitamente vulgar, que o tempo já demonstrou dispensar habilitação adequada, algum grau de decência pessoal e um mínimo de discrição ao pôr as mãos dinheiro público.
E como fala, embora nem sempre diga, Antonio Kandir faz outro de seus anúncios mancheteiros: em 97 o governo arrecadará R$ 6 bilhões acima do que gastará. E lá para as tantas vê-se que, para isso, o ilustre sacador não considerou os previstos R$ 20 bilhões a serem gastos só com juros da dívida pública.
No início do governo, o antecessor de Kandir, José Serra, previu que já naquele 95 haveria o saldo de R$ 5 bilhões. Errou no sinal aritmético. Seu sucessor erra em algo mais pessoal e sem remédio.
Monumento nacional
Nos quase 500 anos de história do Brasil, um só grande século: os 100 anos de Barbosa Lima Sobrinho.
Mais do que o reverencio -tomo-lhe a bênção.

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