São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Mostra em Londres exibe arte "louca"
LUCIA MARTINS
"Além da Razão", uma coleção do psiquiatra e historiador de arte alemão Hans Prinzhorn (1886-1933), expõe trabalhos feitos em materiais baratos e, claramente, por "artistas" sem treino. Mas isso não chega a afetar a qualidade de algumas peças, como "O Misterioso Caso dos Ataques Assassinos", do paranóico Johann Knopf, ou o "O Pastor Milagroso", do paciente esquizofrênico August Natterer. Os dois desenhos poderiam claramente despertar ciúmes em muitos aspirantes a artistas surrealistas. O trabalho de Natterer teria ainda servido de inspiração para o alemão Max Ernst, em uma colagem. Baseado no estudo da relação entre loucura e arte, Prinzhorn publicou, em 1922, um livro sobre o assunto ("A Arte dos Doentes Mentais"). Mas, em 1930, os nazistas declararam seu arquivo "degenerador" e a coleção foi esquecida e trancada. Só 40 anos mais tarde as obras voltaram a ser lembradas. O livro de Prinzhorn é conhecido por ter influenciado ainda as idéias de Sigmund Freud e Friedrich Nietzsche. No livro, o médico analisou a forma dos desenhos, o uso da cor e os temas abordados pelos pacientes -a maioria de sanatórios da Alemanha. Liberdade O movimento e a liberdade foi o principal tema dos pacientes, ainda que não declarado. A maioria das pinturas inclui pássaros, aviões, bicicletas e balões. Há curiosidades como a colagem feita pela doente mental Marie Leb em 1894 no Hospital Psiquiátrico de Heidelberg. Ela forrou o chão da cela com panos e escreveu verdadeiros manifestos feministas. A coleção do historiador e médico hoje faz parte do acervo da Universidade de Psiquiatria Clínica de Heidelberg (250 km de Bohn, Alemanha). Em 1980, ela foi totalmente restaurada e ganhou status de coleção de museu. "Claro que os artistas modernos não são loucos, mas também é certo que os loucos podem ser ótimos artistas 'naive"', diz Mark Giusbourne, um dos organizadores. "Além da Razão" fica até o dia 23 de fevereiro na Hayward Gallery (metrô Waterloo, Londres); funciona diariamente das 10h às 18h Texto Anterior: Museu não tinha certeza de que era Evita Próximo Texto: Artistas brasileiros vão à Austrália Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |