São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 1997
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A OUSADIA DOS MEIOS

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra sempre se utilizou das invasões para forçar um assentamento ou pressionar o poder público para que atenda suas reivindicações. Essa prática atingiu agora uma nova dimensão, em que os objetivos estão mais ligados a uma aspiração política -com ramificações na economia- do que a uma negociação envolvendo a distribuição de terras.
Com seus fins ampliados, os meios escolhidos pelos sem-terra são cada vez mais ousados e inaceitáveis dentro de uma sociedade que se esforça para valorizar a democracia. Depois das seguidas invasões de propriedades rurais, a inadmissível tomada de prédios públicos, numa explícita afronta às leis do país, tornou-se um expediente comum para o MST, que parece não ver mais barreiras possíveis contra suas reivindicações -a cada dia mais distantes da bandeira que sempre disse defender.
Invasões como a da sede paulista do Incra, desocupada ontem, além de outros atos de provocação que ferem direitos de toda a sociedade, exemplificam atos que exigem uma resposta efetiva e enérgica das autoridades. A delicada questão fundiária não pode se transformar em simples refém das intimidações do MST, que, como afirmou o ministro Raul Jungmann, acaba por chantagear o governo, tentando enquadrá-lo conforme os objetivos do movimento.
A cada fazenda invadida, a cada prédio público tomado, os sem-terra bradam novas e mais ousadas palavras de ordem. Não querem mais apenas um pedaço de terra em que possam exercer a atividade agrícola de forma independente. Também querem interromper a privatização da Vale do Rio Doce e protestar contra o direito à reeleição para o presidente Fernando Henrique Cardoso.
A insistência do movimento dos sem-terra em seguir violando direitos básicos abre um precedente extremamente perigoso e inadmissível nas relações políticas do país.

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