São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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Capital da China quer muralha de volta

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

Pequim lançou no mês passado um apelo a seus habitantes: devolvam os blocos que formavam a antiga muralha da cidade, construída durante a dinastia Ming (1368-1644). A prefeitura planeja reconstruir um trecho da muralha, que foi praticamente destruída com a expansão da capital chinesa.
Sem um plano de conservação, a muralha, erguida para defender Pequim, cedeu ao avanço das construções e à voracidade dos habitantes locais. Eles levavam blocos de pedras como suvenires ou para usar na hora de construir ou reformar a casa.
Atualmente, dos 34 km da muralha original, Pequim conta com apenas cerca de 1 km, encravado no centro da capital. Mas o trecho, bastante deteriorado, não guarda mais detalhes importantes da construção, como os postos de observação no topo da muralha.
Campanha pela reconstrução
A Prefeitura de Pequim resolveu reconstruir uma parte da muralha, para resgatar o valor histórico e arquitetônico da obra. O trecho terá 115 m de extensão, o que exige cerca de 200 mil blocos de pedra para a reconstrução.
"Até agora, com a campanha, já tivemos a devolução de mais de 25 mil blocos", afirma Li Yancheng, diretor da Companhia de Engenharia e Reconstrução de Prédios Antigos e Objetos Culturais de Pequim, uma empresa vinculada à prefeitura e responsável pela execução do projeto.
Li acredita que a campanha, reforçada também por uma linha telefônica usada exclusivamente para informar e orientar eventuais doadores, vai atingir a casa de 200 mil blocos devolvidos até março, data prevista para início da reconstrução.
Custos
O projeto também depende de doações em dinheiro. "Além da muralha, vamos levantar um pequeno museu para mostrar aspectos da arquitetura da época", conta Li Yancheng. "Nossa iniciativa significa um custo de 8 milhões de yuans (US$ 1 milhão)."
Já foram arrecadados 4 milhões de yuans, em sua maioria doações de empresas privadas. "Com mais alguma ajuda de companhias particulares e auxílio financeiro da prefeitura, tenho certeza de que vamos reunir os recursos necessários."
A muralha sofreu um de seus principais ataques nos anos 50 e 60. O governo comunista, de olho no "futuro brilhante do proletariado", desprezava heranças do passado e iniciou a construção de uma via expressa que destruiu boa parte da muralha.
A construção do metrô, a partir de 1965, também desferiu golpes duros contra essa herança da dinastia Ming.
Mas a crise ideológica do comunismo leva o governo chinês a buscar apoio no nacionalismo, a reverenciar o passado e glorificar valores tradicionais do país. A reconstrução da muralha cai como uma luva nessa estratégia.
"A antiga muralha é uma rara herança de nossos ancestrais. Como morador de Pequim, fico muito orgulhoso de poder fazer algo pela cidade", disse o aposentado Li Qingsheng ao entregar um bloco em resposta à campanha deslanchada pela prefeitura da capital chinesa.

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