São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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Brasil moderno abre seu 'bas fond' para "Caras"

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Hoje vamos brincar. Então feche os olhos, caro leitor. Imagine que você está no Leopolldo, bafejando o seu Davidoff, saboreando o seu champanhe, pisando um tapete persa cercado de pessoas sorridentes, perfumadas, ricas, famosas.
Sinta-se como se fosse um deles. Que tal? Seja bem-vindo. Agora que você também frequenta a sociedade, divirta-se, prezado conviva. "Caras" esteve presente a este encontro inesquecível em homenagem ao Brasil dos novos tempos e registra a seguir, com exclusividade, seus melhores momentos:
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"Roberto Marinho é o CPC (Centro Popular de Cultura). (...) A Globo está fazendo um trabalho de reeducação cultural do brasileiro. Na Globo há uma lógica de qualidade que transcende ideologias. A Globo não erra; é uma das poucas coisas que funcionam no país. Se alguma coisa dá certo, deduz-se que outras poderão dar."
(Arnaldo Jabor, Ilustrada, 2 de agosto de 94).

"Não dá para dizer feliz ano novo para quem está na miséria. Não dá para dizer feliz ano novo para quem só assiste a felicidade pela TV. Mas em 96 alguma coisa começou a mudar no Brasil. A miséria, que era um hábito nacional, começou a virar um escândalo. Por isso, talvez, dê para fazer um brinde a uma força estranha, muito maior que a política ou a propaganda. Essa força está no ar, na carne, na música, na comida, nas religiões, no sexo, na língua, nos rostos do sertão, nos negões baianos, nos caboclos da Amazônia, nos malandros do Rio; está nas crianças que vão à luta nas ruas de São Paulo, e até na loucura e no crime. Essa força não tem nome, mas não se gasta, não se dobra, não obedece, não acaba. Essa força pode chamar-se Brasil. Um brinde a essa energia misteriosa que vai nos proteger em 97".
(Arnaldo Jabor, no "Jornal Nacional" de 1º de jan. de 97, dando um gole numa taça de champanhe depois de falar).

Augusto Nunes: "Depois do programa ('Roda Viva'), ele (FHC) me convidou para uma taça de champanhe (...)".
Marília Gabriela: "Tomou champanhe lá?"
Augusto Nunes: "Segurando direitinho, como você me ensinou" (aperta a ponta do dedão na pontinha do dedo indicador).
Marília Gabriela: "Francês ou nacional?"
Augusto Nunes: "Francês, eu suponho, o garçom não mostrava o rótulo, apropriadamente. Aí uma garça -tudo combinado, coreografia perfeita-, uma garça sobrevoou o Alvorada e ele (FHC) ficou comovido até com a garça. Eu vou fazer aqui uma profecia e depois vocês me cobrem. A reeleição vai passar e o Fernando Henrique vai ser reeleito."
(Trecho do "First Class", no SBT, 15 de out. de 96).
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"Eu nunca tive muito interesse na revista 'Caras'. (...) Mas a moça que me procurou era muito gentil, muito simpática, acabou me convencendo. Não havia nada de mal, aquela moça simpaticíssima, um amor, o fotógrafo era uma maravilha de pessoa (...). Eu fiz. Paulinha achava legal. Tá bem, eu faço."
(Caetano Veloso, ao explicar porque abriu sua casa a "Caras", no "Roda Viva", 23 de set. de 96)
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"Como foi a sua iniciação sexual, foi com uma prostituta ou com uma empregada?"
(Pergunta de Pedro Bial a Roberto Carlos, no especial da Globo, 21 de dez. de 96)

"As coisas estão tão misturadas, confusas, na sociedade moderna. Algumas coisas, da tradição, devem ser preservadas. É importante haver hierarquia. (...) (O projeto) é idiota (e os vereadores) têm coisas mais importantes para se preocupar."
(Carolina Ferraz, ao posicionar-se contra a lei que garante às empregadas domésticas o direito de usar o elevador social, na Folha, pág. 3-2, 2 de jul. de 95).

Raul Cortez: "(...) Acho que um ator tem uma função social muito importante, ele é um transformador da sociedade (...)".
Imprensa: "Você faria a peça do Antônio Ermírio?"
Raul Cortez: "Acho que sim. (...) Não tenho nenhum preconceito, não. Pelo contrário, gostei muito da peça. Considero muito elogiável a atitude do Antônio Ermírio. Em primeiro lugar, é um autor que está se produzindo, e não havia razão para ele estar fazendo isso. Acho que ele não tem pretensão de ser um grande dramaturgo, mas tem tudo para ser."
(Entrevista à revista "Imprensa", dez. 96).
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"Eles não são uma gracinha?"
(Pergunta de Hebe Camargo).

"Simplesmente um luxo."
(Resposta de Athayde Patreze).
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"Durante séculos a humanidade preparou-se para Victor Mature e Mickey Rooney."
(Adorno e Horkheimer, na "Dialética do Iluminismo").

"Durante séculos o Brasil preparou-se para Otávio Mesquita e Amaury Jr."
(Anônimo).

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