São Paulo, segunda-feira, 27 de janeiro de 1997
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Moradores se desesperam com perdas

RICARDO FELTRIN
DO ENVIADO ESPECIAL

Famílias inteiras choravam ontem pelas ruas de Eldorado, lamentando a tragédia e a perda de todos os seus bens -de roupas a eletrodomésticos e carros.
"Meu Deus, nós não temos mais nada", diziam, em lágrimas, as irmãs e professoras estaduais Gilséia Silva e Souza, 40, e Jaciana Estela da Silva, 37.
Moradora de Eldorado desde que nasceu, Gilséia, dois filhos, se dizia desesperada.
"Não tenho a menor idéia do que vamos fazer ou para onde vamos. Estamos na miséria", afirmou a professora, enquanto apontava sua casa, totalmente destruída pelas águas.
Tanto ela quanto sua irmã, seus filhos e sobrinhos disseram estar há três dias sem tomar banho e usando a mesma roupa.
A rua Major França, próximo ao centro da cidade, tinha "barricadas" de móveis destruídos.
As marcas de água e lama nas casas revelam que, naquela rua, a enchente superou os dois metros de altura. Sem água, os moradores tentavam tirar a lama de suas casas apenas com vassouras e rodos.
"Só salvei a geladeira e a TV. O resto nós perdemos", disse o motorista Éden Freitas, 59, há 52 morador de Eldorado.
A dona-de-casa Íris Costa Aguiar, 17, também se dizia desesperada. Carregando a filha Jaqueline, 6 meses, ela afirmou que chegou a Eldorado no dia 21 de dezembro, para passar o fim de ano com sua família. Seu marido, o caminhoneiro José André, não foi com ela. A casa da família de Íris foi destruída pela enchente. Ontem, todos estavam abrigados na igreja matriz.
"Meu marido não sabe que aconteceu a enchente. Eu não me comunico com ele desde dezembro. Não tenho dinheiro e não tenho como dizer a ele que ainda estou presa aqui", afirmou Íris.
Em Registro, na margem do rio Ribeira de Iguape, a agricultora Olga Pagani, 40, afirmou ter perdido toda a colheita em sua propriedade de 50 alqueires, a cerca de 20 km do centro do município.
"Não dá para chegar à minha casa, mas sei que não sobrou muita coisa", disse Pagani.
Alguns moradores de Registro tentavam entrar em suas casas, ainda cobertas de água, pelo telhado. A única forma de chegar a elas era em pequenos barcos.
(RF)

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