São Paulo, segunda-feira, 27 de janeiro de 1997
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Intervenção na Alpargatas é bem recebida

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Nada melhor que um felino local para combater a concorrência supostamente predatória dos chamados tigres asiáticos nas áreas têxtil e de calçados.
A Alpargatas, líder em ambos os mercados, que o diga. No próximo dia 3, a São Paulo Alpargatas (acionista da Alpargatas-Santista Têxtil) terá um novo presidente: Fernando Tigre de Barros Rodrigues, ex-Jari Celulose e ex-Alcoa.
O novo responsável da SP Alpargatas tem o respaldo do não menos robusto Alcides Lopes Tápias, principal executivo do grupo Camargo Corrêa, que assumirá a presidência do conselho de administração da companhia.
O objetivo da dupla será tirar a SP Alpargatas do buraco em que se meteu nos últimos anos, apesar de vender produtos de marcas poderosas, como os tênis Mizuno, Rainha e Topper, as sandálias Havaianas e Samoa e os encerados Locomotiva, entre outros. Sai de cena o executivo Diego Jorge Bush, presidente nos últimos dez anos.
Rodrigues e Tápias tentarão botar nos trilhos uma empresa que faturou R$ 294 milhões após os impostos nos nove primeiros meses do ano passado, mas amargou um prejuízo de R$ 7,9 milhões no período, segundo o critério contábil de legislação societária (sem correção pela inflação).
Rugido
A intervenção, após acordo dos principais acionistas com direito a voto na empresa -os grupos Camargo Corrêa (33,5% do capital votante) e Bradesco (21,3%)-, foi bem recebida pelo mercado acionário. Mais pela competência comprovada e pelo rugido habitual dos personagens que por seus planos para a companhia -por enquanto, uma incógnita.
As ações preferenciais (sem direito a voto) da SP Alpargatas subiram de R$ 60 por lote de mil no dia 14, data do anúncio da intervenção, para R$ 70 até quinta-feira passada (alta de 16,7%). No período, o Ibovespa, que mede as ações mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, subiu 3,5%.
Na sexta-feira, a Bolsa recuou 1,7% e Alpargatas PN cedeu para R$ 67 por lote de mil. No acumulado do ano, a valorização da ação chega a 4,85%, comparada a uma alta de 10,22% no Ibovespa, segundo a consultoria Economática.
"O plano de reestruturação da empresa não foi divulgado, mas podemos esperar coisa melhor. Uma administração mais unificada poderá impor uma estratégia de crescimento à companhia", comenta o analista Marco Melo, do Bozano, Simonsen.
Ele não recomenda a compra das ações da Alpargatas. Prefere esperar mais para ver os planos da nova diretoria e os resultados.
"A intervenção veio num momento importante, em que o mercado de calçados tem grande potencial para crescer. Mas, por enquanto, a ação da Alpargatas é uma aposta de altíssimo risco", avalia a analista Daniela Bretthauer, do Unibanco.
Para ela, se a empresa souber alavancar a marca japonesa Mizuno, fabricando os tênis no país, seus resultados poderão crescer. Ela estima um prejuízo líquido de R$ 5 milhões em 96, lucro de R$ 13 milhões neste ano e de R$ 26 milhões em 98.
A marca Mizuno será a arma da SP Alpargatas para concorrer com a Nike e a Reebok, da faixa nobre do mercado de tênis, com preço de R$ 80 a R$ 100. Foi obtida em maio do ano passado, com validade para todo o Mercosul, depois de a empresa dar uma derrapada e perder a exclusividade na venda dos produtos Nike, em 94. Com ela, foi-se 25% do faturamento da empresa no setor.
A SP Alpargatas tem 18% do mercado de tênis no Brasil. Pelo menos 75% do faturamento da companhia vem dos pés de seus clientes, incluindo as vendas de sandálias. O tempo irá dizer se os lucros da empresa vão "descalçar o Rider" e voltar aos balanços.

E-mail: papeis@uol.com.br

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