São Paulo, segunda-feira, 27 de janeiro de 1997
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Desclassificação corintiana é fruto do acaso

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O azar do Corinthians foi cruzar de cara com o Flamengo. Se, na fase inicial, tivesse pela frente Vasco, Botafogo ou Fluminense, é quase certo que estaria ainda vivo no Rio-SP.
Digo isso porque, considerando-se que a equipe foi agrupada à última hora, o Corinthians teve um bom desempenho na soma dos dois jogos.
Mesmo na derrota de 3 a 0, no Maracanã, no meio de semana, sua performance esteve longe de ser uma tragédia.
Sábado, ofereceu um espetáculo emocionante e, por pouco, não chegou à goleada que o levaria à decisão para a área do imponderável da cobrança de pênalti. Ganhou de 2 a 0, mas teve claras chances de ir além.
Acontece que tinha diante de si um Flamengo que parece ter readquirido sua verdadeira personalidade, depois das frustradas fantasias da última temporada.
Com o menino Bruno Quadros, filho do veterano jornalista Raul Quadros, e Moacir, montou-se uma dupla de volantes que aliam técnica à capacidade de marcação. Lúcio vai se ajustando na tarefa de se ligar aos redivivos Romário e Sávio. E Romário resolveu treinar e jogar. Logo...
Logo, a desclassificação alvinegra, nessas condições, antes de ser uma desgraça, é um alento.
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Quase que o Santos dança, por conta da abençoada regra das 15 faltas, embora tenha sido superior ao Vasco, cá e lá.
Safou-se nos pênaltis e nas mãos de Zetti, que fez um duelo de gigantes com seu rival no gol da seleção, Carlos Germano. O mais importante, porém, é que já deu sinais de grandeza mas mãos de Luxemburgo.
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Até agora, o placar do Rio-SP está 3 a 1 para São Paulo. Claro que isso reflete a realidade: o futebol paulista, neste momento, é superior ao carioca.
Mas não teria sido nenhum absurdo se fosse o inverso: 3 a 1 para os cariocas. Afinal, Santos e São Paulo classificaram-se nos pênaltis, diante de Vasco e Fluminense, depois de dois empates de cada um.
Moral da história: quando se enfrentam esses eternos rivais, as diferenças desaparecem.
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Morumbi lotado, nas suas atuais limitações, apesar de o Corinthians ter levado de 3 a 0 na estréia. Em São Januário, que vivia às moscas no Estadual, mais de quatro mil espectadores. Isso, com TV ao vivo, embora de sinais trocados.
Qual o milagre da multiplicação? Simples. Em primeiro lugar, só clássicos com jogos para valer -a cada duas rodadas, uma decisão. Em segundo, a certeza de bom futebol, assegurado pela regra das 15 faltas.
O povo não é idiota, como alguns pensam. Idiota é quem não vê o óbvio.
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A falta é uma excrescência. É o antijogo. Essa regra recupera o jogo, punindo a falta com a pena certa. O resgate da emoção que ela havia ceifado. De todas as regras, pois, é a que menos fere a tradição do futebol, ao contrário, repõe o jogo no seu devido lugar -o do espetáculo.
Prova disso, o belo momento de sábado, quando Corinthians e Flamengo jogaram bola, apenas jogaram bola.
O que seria tédio virou emoção.

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