São Paulo, terça-feira, 28 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O poder reeleitoral

JANIO DE FREITAS

Só o que se passou na imprensa e, em proporção ainda maior, no radiojornalismo e no telejornalismo, nesses dias em que o governo fez um vale-tudo sem precedentes, só isso já seria suficiente para que um país de instituições razoavelmente honestas repudiasse o direito de reeleição, em todos os níveis, estabelecendo que o poder de governo é para administrar, e não para pressionar e corromper.
Os interesses suscetíveis de represálias do governo são muito grandes. Obtenção de mais canais de TV e rádio, renovações dos já existentes, irregularidades imensas e passíveis de punições pesadas; prorrogação (ilegal, quase sempre) de contratos de fornecimento de listas telefônicas, de impressos, de propaganda oficial; importações tipificáveis como contrabando, altos contratos de publicidade, financiamentos e prorrogação injustificável de dívidas também injustificáveis -tudo isso faz parte, e parte principal na maioria dos casos, do dia a dia no conjunto de TVs, rádios, jornais e revistas brasileiros.
Quantos são capazes de não se submeter ao telefonema pressionante de um ministro, de um presidente de banco oficial, de um governador? Não custa nada a suposição de que haja mais de uma empresa capaz de responder a pressões com indiferença. Mas, no que me cabe, imaginar um numerozinho desse gênero não é suposição em que me aventure.
Com a massa de poder e recursos oficiais que vem aplicando na reeleição, desde 95 e sobretudo desde o primeiro semestre de 96, é quase inacreditável que Fernando Henrique Cardoso e seus aliados no Congresso não aprovassem a emenda reeleitoral até agora. Nisso parece haver outra ocorrência sem precedentes: tamanha incompetência política também não se encontra nos registros da história política, remota ou recente. Ainda mais se considerada a dimensão da inescrupulosidade aplicada.
Caçada
O esforço de alguns jornalistas está concentrado nas atividades do BNDES. Mais precisamente, em uma: empréstimos muito generosos para determinadas empresas. A procura é por elementos que comprovassem a ocorrência e a destinação dos empréstimos, citados no circuito político como peças decisivas de muitas adesões à emenda reeleitoral.
Depois como antes
Quando o próprio líder de uma bancada partidária pressiona os seus liderados para desrespeitar uma decisão da convenção do partido, não há mesmo como disfarçar que a política esteja em estado de putrefação.
Quando este líder, Michel Temer, do PMDB paulista, ainda por cima é candidato à presidência de uma casa do Poder Legislativo, não há mesmo como disfarçar que dele só se espere, no trato do Regimento da Câmara e da própria Constituição, o mesmo tratamento que dá ao regimento do seu partido.

Texto Anterior: Indecisos aguardam resposta a pedidos
Próximo Texto: Ostracismo e reeleição
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.