São Paulo, terça-feira, 28 de janeiro de 1997
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CPMF & retorno

LUÍS PAULO ROSENBERG

A entrada em vigor da CPMF provocou uma agitação nos agentes econômicos, incompatível com sua dimensão.
De fato, não há imprecação excessiva quando se trata de criticar os autores deste aleijão pelo estrago macroeconômico que o tributo introduz. "Trocar" é o ato final que produz o bem-estar numa economia de mercado. Tributá-lo, portanto, é encarecer a busca da alocação eficiente de recursos, é extorquir recursos para o governo aumentando o preço final dos bens com várias etapas de produção, sem qualquer consideração pelos impactos distributivos do imposto.
Ele é, pois, intrinsecamente imbecil. O que não significa que no nível pessoal cada um deva fazer de tudo para evitá-lo. Primeiro, porque é muito difícil escafeder-se dele: voltar aos pagamentos com papel-moeda, em tempos de assaltos sendo o pano de fundo do cotidiano, é impensável. Cair no canto de sereia dos bancos que se dispõem a bancar o imposto por você é ingenuidade: a generosidade proverbial do banqueiro só lhe permite dar uma colher de chá se estiver ganhando na outra ponta, seja na cobrança indireta do serviço prestado, seja pelo menor rendimento pago na sua aplicação.
Donde, uma primeira recomendação universal: aplique seu dinheiro da forma mais rentável e equilibrada segundo seus objetivos e relaxe e goze em relação à CPMF.
Uma segunda recomendação oportuna é lembrar que desde os tempos da inflação pornográfica, acostumamo-nos a encurtar o prazo das aplicações. O que era bem lógico: se a taxa de overnight acumulada no mês ultrapassava a do CDB em períodos de inflação ascendente, por que não reencontrar-se diariamente com sua liquidez, quando nada para avaliar se uma trupe de saltimbancos não está por assumir o comando da economia, ansiosa por congelar sua liquidez?
Os tempos mudaram e os traumas devem ser superados. O razoável é alongar suas aplicações ao máximo, o que economiza inteligentemente seu desembolso em CPMF e aumenta seu retorno esperado.
Uma terceira recomendação, dada a queda progressiva das taxas de juros, é a de olhar com mais carinho para as aplicações mais ousadas.
Nada de perguntar ao engraxate qual a ação que você deveria comprar. Mesmo que ele lhe dê a recomendação correta, vai ser preciso muita coincidência para você resolver lustrar os sapatos justamente no dia em que ele lhe recomendaria que é chegada a hora de vender. Recorra aos fundos, onde o somatório de pequenos produz massa crítica para pagar preços mais vantajosos e ter um especialista de plantão acompanhando os mercados e defendendo seu patrimônio.
Para quem ainda acredita que caderneta de poupança, CDB, imóveis e ouro são as opções corretas de investimento, uma última recomendação modernizante: distribua sua disponibilidade entre fundos de renda fixa, de ações e derivativos, de acordo com sua tolerância ao risco, horizonte estratégico de investimento e necessidades de saques a curto prazo. Recorra à assessoria de quem é do ramo para definir especificamente a melhor alocação de seus recursos. Então, vá trabalhar e gozar a vida e não se lamente quando a Bolsa subir e você lembrar que só tinha um terço do patrimônio nela aplicado. Diversificação é assim mesmo, ganhar menos, mas procurar ganhar sistematicamente, a despeito dos humores de cada mercado.
Em suma, aproveite a oportunidade do falso debate quanto a como evitar pagar a CPMF para fazer seu dinheiro trabalhar um pouco melhor para você.

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