São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 1997
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Promessas e pressões "viraram casacas"

DANIELA FALCÃO
LUCIO VAZ

DANIELA FALCÃO; LUCIO VAZ; PAULO SILVA PINTO; RICARDO AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Deputados mudaram voto na última hora em troca de verbas, cargos e, dizem, por medo de "discriminação"

Os 47 deputados que até anteontem se diziam contrários à reeleição, mas que terminaram votando a favor da emenda, deram duas explicações básicas para a mudança repentina: pressão de prefeitos, ministros e eleitores e promessas do governo de privilégios para seus Estados.
Alguns também argumentaram que, se votassem contra a emenda, seus Estados corriam o risco de serem discriminados na distribuição de verbas federais.
Pelo menos dois deputados admitiram abertamente que mudaram o voto depois de obterem promessas de ministros e do próprio Fernando Henrique Cardoso de que seus pleitos seriam atendidos pelo governo.
Empregos
É o caso do deputado Eraldo Trindade (PPB-AP), que só queria a reeleição para o próximo presidente, mas mudou de idéia depois de, segundo ele, obter o compromisso do governo da manutenção do emprego de 6.000 servidores federais do Amapá que não têm estabilidade.
Trindade esteve no Palácio do Planalto na última quarta-feira para pedir a permanência de 6.000 servidores, que custam à União R$ 12 milhões por mês.
Disse que votaria a favor da reeleição já se o presidente desse uma solução definitiva para o caso.
Ontem, Eraldo Trindade afirmava que o ministro da Administração e Reforma do Estado, Luiz Carlos Bresser Pereira, assumiu o compromisso de manter os 6.000 funcionários do Amapá.
A Folha entrou em contato com a assessoria de imprensa do ministro Bresser Pereira, que teria até feito uma gravação garantindo o emprego dos servidores, para checar se ele realmente tinha assumido o compromisso com o deputado.
Até as 19h, o ministério não havia dado resposta.
"Interesses"
O deputado Osmir Lima (PFL-AC) é outro que justifica ter "virado a casaca" para conseguir benefícios para seu Estado em troca do voto na reeleição.
"Mudei porque os interesses do Acre vêm antes das minhas convicções pessoais e ideológicas. O governo se mostrou sensível às nossas reivindicações e resolvi apoiar a emenda", disse o deputado do Acre.
A principal reivindicação de Lima e dos seis deputados da bancada do Acre que votaram a favor da reeleição é a construção de 12 mil km da BR-364, que ligará o Acre ao Pacífico.
"Será a salvação econômica do Estado e o presidente se mostrou extremamente sensível à nossa causa", disse Lima.
Retaliações
Outro motivo da troca de voto na última hora foi o medo dos deputados federais de que seus Estados fossem "boicotados" pelo governo federal na distribuição de verbas.
"Votei a favor para ser bondoso com meu Estado. Se ficasse contra a reeleição, o Acre seria descriminado. Todo mundo sabe que quem fica com o governo tem todas as portas abertas", afirmou o deputado Chicão Brígido (PMDB-AC), que era vice-prefeito de Rio Branco e defendia a reeleição só para os próximos mandatários.
"Até o Sérgio Motta (Comunicações) ligou para o prefeito de Rio Branco cobrando da bancada do Acre o apoio à reeleição. Eu era contra a emenda porque queria disputar a prefeitura nas próximas eleições. Agora vai ficar mais difícil."
Para Brígido, nenhum deputado votou por convicção ideológica anteontem.
"A reeleição é uma questão política, de poder. Cada um fez a escolha que trouxe mais benefícios ao partido ou ao Estado."
Pressão
A deputada Tetê Bezerra (PMDB-MT), que era contra a reeleição, afirma que mudou de voto depois de receber moção de 120 prefeitos do Mato Grosso pedindo que a emenda da reeleição fosse aprovada.
Segundo a Folha apurou, a deputada foi pressionada pelo ministro Sergio Motta (Comunicações) a aprovar a reeleição, sob pena de perder os cargos que seu marido, o senador Carlos Bezerra, havia indicado no Estado.

(Colaboraram PAULO SILVA PINTO E RICARDO AMORIM)

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