São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 1997
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SEM EUFORIA

A euforia que dominou as lideranças governistas, após o placar da Câmara confirmar a aprovação em primeiro turno da emenda da reeleição, descreve apenas parcialmente os efeitos da votação da última terça-feira. Para que se compreenda seu significado para o país, o resultado deve ser devidamente dimensionado.
O presidente Fernando Henrique Cardoso, assim como os chefes do Executivo nas esferas estadual e municipal, tiveram ampliadas suas perspectivas políticas. Todos viram aumentadas suas chances de poder concorrer a um segundo mandato -o que não previam quando se candidataram ao atual. Trata-se de uma mudança que já era defendida por esta Folha exatamente porque dará aos eleitores a chance de optar entre o governo que chega ao seu final e candidatos que a ele se contraponham.
A decisão dos deputados federais foi considerada pelos governistas de vital importância por combater os sinais de desgaste que a tese da reeleição havia demonstrado nas semanas anteriores. Entretanto, como bem sabem todos os que circulam no mundo político, não está assegurada a repetição do resultado nas três futuras etapas -segundo turno na Câmara e duas votações no Senado.
Um dos benefícios mais imediatos da aprovação da emenda poderá ser a retomada dos pontos mais prementes na atual agenda do país. Já na terça-feira, as palavras "reformas" e "privatizações" eram citadas por políticos como temas dos quais o Congresso, que os desprezou nos últimos meses, deveria realmente se ocupar a partir de agora.
Para as relações políticas em geral, reduzidas nas últimas semanas ao clássico jogo de interesses pessoais de triste lembrança para os brasileiros, o resultado simboliza um novo desafio. Caso se confirme o direito à reeleição para o Executivo, tanto a situação como a oposição em todo o país estarão mais expostas e terão novas responsabilidades a assumir.
Os chefes do Executivo deverão, quando em campanha, deixar claro por que os seus quatro anos de governo os fazem merecer um novo período no poder. Deverão também ser mais criteriosos nas questões que possam afetar o seu segundo mandato -como o endividamento. Aos candidatos de oposição, caberá basicamente diferenciar-se claramente da situação e mostrar as razões pelas quais se consideram melhores.
Ainda não existem motivos suficientes para a euforia governista. Iniciou-se apenas uma mudança nas regras do jogo político -que, deve-se lembrar, vem sendo disputado de maneira pouco edificante.

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