São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 1997
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Juiz manda sem-terra saírem de ferrovia

EDMILSON ZANETTI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

A Justiça de Teodoro Sampaio determinou a retirada das cerca de 600 famílias acampadas em uma estrada de ferro no município de Euclides da Cunha, no Pontal do Paranapanema (extremo oeste de São Paulo).
A linha da Fepasa (Ferrovias Paulistas S/A) está desativada e divide as fazendas Santa Tereza, Porto Letícia e Santa Maria. A decisão de retirar sem-terra de uma área pública é inédita na região.
O acampamento dos sem-terra ocupa 1 km de extensão da ferrovia, no trecho que divide as fazendas Santa Tereza e Porto Letícia.
O advogado dos fazendeiros, Daniel Schenk, disse que, como as propriedades não têm cerca, os sem-terra entram nas áreas. Por isso pediu a retirada das famílias.
A decisão do juiz Carlos Eduardo Borges Fantacini está prevista para ser cumprida hoje, com reforço policial. O líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), José Rainha Jr., disse que "os acampados estão revoltados e prometem resistir".
A direção do MST pediu ao senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e ao deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) intervenção junto ao governo do Estado para impedir o despejo.
Rainha Jr. afirmou que, por ser da Fepasa, a linha férrea é pública. "Vão impedir a gente de ficar em lugar público agora", reclamou.
As fazendas, julgadas terras devolutas em primeira instância, foram invadidas no início do mês. Os sem-terra deixaram as áreas, por força de liminar para reintegração de posse, e ficaram acampados na estrada de ferro.
Missa
A Igreja Católica vai celebrar no próximo dia 8 uma missa nas proximidades da fazenda Concórdia, em Tarabai, no local de onde famílias de sem-terra foram dispersadas a tiros na terça-feira.
A fazenda Concórdia pertence ao vice-presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Guilherme Prata. O fazendeiro comandou com tiros a resistência à tentativa de invasão.
A decisão de realizar a missa foi tomada ontem durante encontro do bispo auxiliar de Assis, dom Eugênio Rixer, com a líder do MST Diolinda Alves de Souza e o agente da CPT (Comissão Pastoral da Terra) João Mendes.
Os sem-terra planejam fazer uma caminhada com 10 mil pessoas, a partir do centro de Tarabai, até o local da celebração. O presidente da UDR, Roosevelt Roque dos Santos, disse achar a missa "uma provocação que estimula ainda mais a tensão na região".

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