São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 1997
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"Nunca chorei tanto na vida"

JEANNE WOLF
ESPECIAL PARA A FOLHA

Drew Barrymore já fez alguns papéis difíceis numa carreira de atriz que começou quando ela tinha apenas 7 anos. Mas afirma que nenhum deles exigiu tanto dela quanto seu trabalho em "Pânico", o novo thriller de suspense do mestre do horror Wes Craven.
Barrymore tem uma participação especial no início do filme, onde é perseguida por um serial killer. "Faço o papel de uma garota boazinha, coitadinha, que é vítima de torturas inimagináveis", diz ela.
"Fico correndo por aí, gritando, coberta de sangue. Garanto a você que representar esse tipo de terror nu e cru por dez dias a fio é exaustivo, mesmo quando é apenas um set de filmagem."
Com orgulho indisfarçável, acrescenta: "Eu nunca tinha chorado tanto na minha vida -e não foram lágrimas de mentirinha. Foram de verdade. E todas minhas!"
Para conseguir sobreviver às cenas atormentadas, Barrymore apoiou-se em Wes Craven. "Ele estava sempre pronto a me dar um abraço ou me contar uma piada", recorda.
"Ele sabe que sou militante convicta dos direitos animais e às vezes me tratava como se eu fosse um cachorrinho. Eu precisava daquele carinho", diz a atriz
Para Drew, a parte divertida de "Pânico", no qual ela contracena com Skeet Ulrich e Courteney Cox, foi representar um personagem que ela descreve, com um sorriso maroto, como "alguém tipo Sandra Dee".
"Cheguei com cabelos escuros", conta, rindo, "e eles disseram 'Não, não, assim não vai dar'. De repente me vi usando uma peruca loira com franjinha. Achei superdivertido. E foi legal representar uma garota do colegial, embora eu mesma nunca tenha chegado lá."
Outro ponto positivo, para Barrymore, foi a oportunidade de trabalhar num gênero do qual sempre foi fã.
"Adoro filmes assustadores", admite. "Meus favoritos são a trilogia 'A Morte do Demônio' e 'O Iluminado'. Quando eu era criança, ficava realmente inspirada com Angie Dickinson em 'Vestida para Matar' e Janet Leigh em 'Psicose'. E um dos filmes que mais gostei na vida foi 'A Hora do Pesadelo', de Wes Craven."
Embora mal tenha passado da adolescência, Barrymore já pode recordar uma vida no show business que tem sido repleta de altos e baixos, desde quando estreou nas telas no papel da angelical Gertie, em "E.T.".
Em sua autobiografia, "Little Girl Lost" (Garotinha Perdida), fala francamente sobre os problemas que teve com a fama, as drogas e o álcool, incluindo o fato de ter ficado bêbada pela primeira vez aos 9 anos de idade, seu envolvimento com a cocaína e posterior internação numa clínica de recuperação de viciados, aos 14, após uma tentativa de suicídio.
Agora, afirma, com um sorriso triste: "Vivo neste planeta há 21 anos e minha vida tem sido estranha. Sou jovem em anos, mas não me sinto jovem de alma. Dizer que tenho 21 anos não abrange todas as experiências que eu já vivi. Tem sido uma viagem e tanto, e já aprendi muito do que eu quero da vida".
Comentando seu futuro como atriz, Drew fala: "Não dou valor às coisas fáceis. Ao contrário do que alguns pensam, nada na vida veio a mim de maneira fácil. Acho que é bom a gente ter que trabalhar duro para conseguir as coisas".
E isso a faz lembrar de um incidente especial ocorrido durante as filmagens de "Pânico". "A menina que eu represento no filme estava tão apavorada que começava a hiperventilar", recorda.
"Para ficar com aquela sensação, eu ficava pulando antes do início da cena. Então, quando a cena terminou, Wes fez de conta que tínhamos mais uma cena a fazer. Ele me fez entrar num frenesi. Eu estava chorando e hiperventilando. De repente, ele começou a rir. Eu disse: 'O que foi?' Olhei à minha volta e a equipe inteira estava me olhando pular e aplaudindo. Foi estranho -senti como se fosse uma das maiores homenagens que já recebi na vida".

Tradução Clara Allain

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