São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 1997
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Osvaldo Soriano morre em Buenos Aires

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

Cumprindo o destino de muitos escritores argentinos, entre eles Jorge Luis Borges e Julio Cortazar, Osvaldo Soriano experimentou o sucesso no exterior antes do reconhecimento em seu país.
Suas novelas "Não Haverá Mais Penas Nem Olvido" (1980) e "Quartéis de Inverno" (1981) saíram primeiro em versões francesas e italianas, para depois serem editados os originais em castelhano.
Sua obra literária, porém, ficou interrompida em 12 publicações, e sua vida parou aos 54 anos, completados no último dia 6 de janeiro.
Soriano morreu anteontem à tarde em Buenos Aires, em consequência de câncer no pulmão, e seus restos foram velados e enterrados ontem.
O culpado deve ter sido o cigarro, que sempre o acompanhava. Também sempre o seguiu a paixão pelo cinema, influenciando seu estilo de escrever.
Cinéfilo
Soriano foi mais cinéfilo até que os diretores que levaram suas obras para a tela: Héctor Oliveira, que filmou "Não Haverá Pena Nem Olvido" (ganhador do Urso de Prata do Festival de Berlim, em 1983) e "Uma Sombra Em Breve Serás", e Lautaro Murúa, que adaptou "Quartéis de Inverno".
Um quarto livro seu, "A Seus Pés Rendido um Leão", teve seus direitos vendidos para a cineasta italiana Lina Wertmuller.
"Em grande medida, eu sou um produto dos filmes", se definia o escritor.
"Meus personagens falam como John Wayne, se vestem como Humphrey Bogart e pensam que são Gary Cooper."
A isso se somou a observação da realidade argentina, principalmente dos personagens noturnos de Buenos Aires.
Por essa característica, sua produção é comparada à de Roberto Arlt, autor do início do século que, como Soriano, se dividiu entre a literatura e o jornalismo.
Soriano foi um dos fundadores do jornal "Página 12". Nos últimos tempos, escrevia semanalmente uma contracapa da publicação -geralmente sobre futebol e seu time, o San Lorenzo de Almagro.
Mar Del Plata e Paris
Soriano nasceu na cidade balneária de Mar Del Plata, mudando-se para Buenos Aires aos 28 anos.
Publicou seu primeiro livro, "Triste, Solitário e Final", em 1973. Três anos depois, escolheu o exílio em Paris, enquanto o país entrava em seu último regime militar (1976-1983).
Voltou à Argentina com a retomada da democracia e começou a alcançar fama entre os compatriotas, depois de ser um sucesso de vendas e crítica na Europa.
Soriano é classificado como o escritor mais notável surgido nas últimas décadas, mas seu reconhecido pelo meio acadêmico ainda não aconteceu.
Enquanto isso, seus livros estão entre as obras de ficção mais vendidas no país, sendo traduzidas para mais de 15 idiomas.
"As referências ao cinema norte-americano são meramente formais. Dificilmente outro escritor tenha captado como Soriano o tom coloquial e os costumes argentinos", define outro escritor argentino, Roberto Fontanarrosa.

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