São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 1997
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Praia, sol, Maracanã, futebol

ANTONIO CARLOS DE FARIA

Rio de Janeiro - Por falta de criatividade não vai morrer o humor carioca. A última agora na cidade é a privatização do Maracanã. Querem transformar um dos símbolos do Rio numa espécie de templo do Holliday on Ice.
Nada contra as belas patinadoras do gelo, mas elas, por mais atléticas que sejam, não combinam bem com a temperatura esportiva do estádio de futebol e do ginásio de esportes, o Maracanãzinho, que seria convertido numa casa de shows.
Depois de criar o maior local de espetáculos do Brasil, Ricardo Amaral deve ter ficado assim, digamos, com mania de grandeza. Mas daí para fazer do Maracanãzinho um lugar semelhante ao seu Metropolitan há uma distância enorme.
A proposta do grupo que se candidata à privatização prevê também a demolição do ginásio de atletismo, o Célio de Barros, parte do complexo esportivo do Maracanã. No lugar do ginásio seria feito um primeiromundístico estacionamento.
Nada mais coerente. Afinal, um país que acredita que vai ter 11 indústrias automobilísticas até o ano 2000 precisa mesmo ter um estacionamento à altura.
A idéia de transformar a geral do Maracanã em uma pista de atletismo, para compensar a demolição do Célio de Barros, tem até apoiadores. Agradou, entre outros, aqueles que não vão ao estádio porque lá tem muito povo.
A geral sempre foi o espaço mais barato no estádio. É comum ver nas fotos de comemoração dos gols no Maracanã as figuras de pessoas humildes, na geral, sorrindo com a arte de seus craques. A pista de atletismo viria a dar um fim nessa alegria sem sentido.
Agora dá para entender uma entrevista em que João Havelange dizia, no ano passado, ser favorável à demolição do Maracanã, um estádio, no seu entender, ultrapassado. Se não foi um fenômeno de premonição, pode muito bem ser um caso de boa informação.

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