São Paulo, terça-feira, 7 de outubro de 1997
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Região não sabe como enfrentar a estiagem

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Apesar de mostrar preocupação com o El Niño produtores e governos do Nordeste não desenvolveram ainda programas específicos para enfrentar a longa estiagem prevista e reduzir as eventuais perdas.
"Não temos informações suficientes da dimensão do fenômeno", reconhece o subsecretário de Desenvolvimento Rural do Ceará, José Dírcio Lucena.
Segundo Lucena, o governo aguarda a conclusão de estudos realizados pela Funceme (Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos).
"Em dezembro, podemos ter uma definição", afirma o subsecretário.
Ele adianta, no entanto, que as atenções devem se voltar para culturas mais sensíveis à falta de chuvas, como o algodão, o milho e o feijão.
A região semi-árida, continua Lucena, vem passando por um período de estiagem considerado normal para esta época do ano.
Mesmo assim, segundo ele, o volume de chuvas tem sido 25% menor do que em anos anteriores.
"A nossa preocupação é a possibilidade de se repetir uma seca tão intensa quanto em 1982, a mais forte dos últimos anos", diz.
Na Bahia, o governo está recomendando algumas medidas isoladas como prevenção.
Segundo o diretor-presidente da EBDA (Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola), Hermínio Maia Rocha, o plantio escalonado pode ser uma alternativa para as culturas de milho e de feijão.
"O produtor deve plantar no início de cada chuva e em áreas diferentes da fazenda", diz.
Ele admite, no entanto, que a técnica "é duvidosa". "Nós sabemos que vai chover menos, mas não temos noção de como será a distribuição das chuvas", diz.
Rocha propõe também que o produtor recorra a culturas mais resistentes a secas na época de plantio, como a mamona, o gergelim e o sorgo.
Degradação
Décadas seguidas de má utilização do solo contribuíram para a deterioração dos recursos naturais do Nordeste, afirma o chefe geral da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) de Petrolina, Manoel Abílio de Queiróz.
Segundo ele, a degradação foi mais forte nos locais onde houve a intensificação do plantio de algodão em solos rasos (com camadas inferiores a 40 cm).
"A Paraíba, pioneira do plantio de algodão no Nordeste, apresenta problemas graves de desertificação", afirma Queiróz.
No Ceará, onde o problema também é grave, o índice chega a 28,98% e, no Rio Grande do Norte, a 16,92%.
Na opinião de Queiróz, a solução para os problemas de solo no Nordeste seria ampliar a área irrigada.
"A região tem potencial para aumentar os atuais 600 mil ha irrigados para até 2 milhões de ha."

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