São Paulo, terça-feira, 7 de outubro de 1997
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Amarelinho ameaça o futuro da citricultura

ADEMERVAL GARCIA

Clorose Variegada do Citrus (CVC) foi o nome que se deu a uma doença surgida no norte do Estado de São Paulo, mais exatamente em Macaubal, em 1987.
Os sintomas eram manchas foliares, frutos pequenos, duros e amarelos antes do tempo, imprestáveis para o consumo e para a indústria. Antes que as primeiras plantas tivessem morrido ou os cientistas identificado a nova doença, a ocorrência já havia sido batizada de "amarelinho", referência a frutos miúdos e amarelos.
Hoje, conforme pesquisa recém divulgada pelo Fundecitrus, 34% das árvores manifestam sintoma da doença, incidência 45% superior aos 23% detectados no levantamento anterior, de 1996.
Em estado terminal encontram-se 2,3% ou cerca de 5 milhões de árvores, com prejuízo já contabilizável mínimo superior a US$ 60 milhões.
Dez anos após sua primeira manifestação conhecida, o CVC transformou-se na principal preocupação da citricultura paulista, a maior do mundo, com 800 mil hectares plantados, US$ 1,5 bilhão em exportações, estimados 400 mil empregos diretos e importante atividade econômica em mais de 200 municípios paulistas e alguns do Triângulo Mineiro.
O CVC ameaça o setor em vários aspectos. Primeiro, colocou em alerta toda a área plantada, com redobrados cuidados no manejo dos pomares e, portanto, maiores custos e menor rentabilidade.
Segundo, a doença desestimula investimentos novos e a falta de interessados desvaloriza a terra.
Terceiro, sendo uma doença que ataca principalmente plantas jovens, a renovação dos pomares fica comprometida. O estoque de árvores não em produção, com menos de quatro anos vem caindo drasticamente, sendo hoje inferior a 30 milhões de pés.
Para ficar do mesmo tamanho, a citricultura paulista exige a reposição das mais de 5 milhões de árvores erradicadas anualmente em consequência da idade, declínio, cancro-cítrico e outras doenças.
Quarto, é que as estatísticas, como os biquínis, mostram muito, mas escondem o mais importante: 5 milhões de árvores em estado terminal, num total de 220 milhões não parece assustador.
Ocorre que 92,5% dos produtores são pequenos, possuem em média 4.400 pés. Essas propriedades, cujos donos dispõem de poucos recursos contra a doença, são as mais atingidas e vem sendo completamente dizimadas pelo amarelinho. E aí a perda não é só das árvores, mas das benfeitorias todas que passam a valer nada.
Pior, a propriedade abandonada transforma-se num pólo difusor da doença para as propriedades vizinhas, agravando a situação. A lista é enorme, fiquemos nestes exemplos.
Soluções. No lado técnico-científico, Fundecitrus - Fundo Paulista de Defesa da Citricultura, entidade criada e mantida por citricultores e processadores de laranja, com sede em Araraquara, está coordenando as pesquisas para o combate à doença e formas de convivência com ela, para minimização dos prejuízos e continuidade da produção.
O Fundecitrus dispõe de um centro científico no melhor padrão internacional onde executa pesquisas próprias e financia outros em universidades e institutos públicos. É signatário de acordos operacionais com centros de excelência científica nos Estados Unidos, França e África do Sul.
Também está buscando o apoio de entidades financiadoras de pesquisa pública como o Finep, Fapesp e CNPq.
No aspecto econômico-social, é necessário, que dada a importância da citricultura para o país, o governo crie um fundo, um exemplo atualizado do antigo Gerca, para financiar a diversificação ou a mudança de atividade do pequeno produtor, evitando-se a sua migração para as cidades com todas as consequências conhecidas.
A citricultura enfrenta hoje o seu pior momento, desde que o vírus da Tristeza praticamente dizimou os nossos pomares, na década de 40. Mas eram então 30 milhões de árvores, e não as 220 milhões atuais, e o Brasil sequer sonhava em ser o líder mundial na produção e exportação do suco de laranja, nem havia tanta gente dependente dessa atividade como hoje.

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