São Paulo, terça-feira, 7 de outubro de 1997
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Covas e FHC 'lavam roupa suja' por 4 h

Tasso e Sérgio Motta participam de encontro

EMANUEL NERI; BERNARDINO FURTADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em conversa que demorou quase quatro horas, encerrada na madrugada de ontem, Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas fizeram um acerto de contas sobre suas divergências. Para assessores de Covas, o encontro serviu para que os dois "lavassem roupa suja".
Além de Covas e FHC, também estavam presentes ao encontro o ministro Sérgio Motta, das Comunicações, e o governador Tasso Jereissati, do Ceará, todos do PSDB. A reunião foi seguida de jantar. Antes, o presidente e o governador conversaram reservadamente por quase uma hora.
No último mês, Covas se distanciou do presidente por discordar da aproximação entre FHC e o ex-prefeito Paulo Maluf. Também havia problemas com a área econômica do governo federal. O motivo principal era a chamada Lei Kandir.
A Lei Kandir isentou parte das exportações do pagamento de ICMS. O governo de São Paulo acredita que a medida fará com que o Estado deixe de arrecadar até R$ 1 bilhão este ano. Por causa disso, Covas disse que não concorreria à reeleição.
Tensão máxima
Na semana passada, a tensão entre Covas e FHC chegou ao ponto máximo. O governador chamou de "migalhas" a compensação que o governo federal dará aos Estados que se sentem prejudicados com a Lei Kandir.
O valor que caberia a São Paulo era de R$ 75 milhões -mas havia negociação para que isso fosse ampliado. Covas disse que perderia sua linha de argumentação contra a Lei Kandir, caso aceitasse essa compensação.
FHC não gostou da reação de Covas, principalmente da expressão "migalhas". No domingo à tarde, ao chegar a São Paulo, telefonou ao governador para marcar um encontro entre os dois. Covas aproveitou e convidou FHC para jantar com ele.
Argumentos técnicos
Em alguns momentos, a reunião foi tensa. FHC aceitou proposta do governador para apresentar formalmente novos argumentos técnicos contra a Lei Kandir. Em forma de carta, a proposta será encaminhada a Brasília ainda esta semana.
Na manhã de ontem, FHC e Covas voltaram a se encontrar na inauguração da fábrica da Honda. Além de discursos com troca de elogios, driblaram as perguntas sobre a conversa dos dois.
"Depois de quatro horas de jantar, veio a sobremesa", afirmou Covas. À noite, durante homenagem ao ex-governador Franco Montoro, o governador foi irônico ao falar do jantar com FHC. "Saí mais gordo", afirmou. Na homenagem, o governador sentou ao lado de Kandir.
Pela manhã, ainda na inauguração da fábrica da Honda, FHC negou ter tentado convencer Covas a rever a decisão de não disputar a reeleição. "Imagina se vou convencer o governador a fazer alguma coisa", afirmou FHC. "Ele é um político que sabe muito bem decidir sozinho."
Para assessores de Covas e de FHC, tratou-se da mais longa conversa entre eles desde que os dois tomaram posse, em 95.
Sem fazer pressões, FHC tentou quebrar a resistência de Covas a disputar um novo mandato. Os auxiliares não sabem se a conversa surtiu algum efeito.
A conversa reservada entre Covas e FHC foi realizada na biblioteca da ala residencial do Palácio dos Bandeirantes.
Depois, os dois juntaram-se a Motta e Jereissati para o jantar. Comeram macarrão ao molho de camarão.
(EMANUEL NERI E BERNARDINO FURTADO)

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