São Paulo, terça-feira, 7 de outubro de 1997
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Estoque de droga anti-HIV acaba em 15 dias

AURELIANO BIANCARELLI; LÚCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Médicos e entidades que representam doentes de Aids alertam para a falta de medicamentos anti-HIV na rede pública. O Fórum de ONG-Aids -que reúne as entidades não-governamentais- informou que o estoque de medicamento deve terminar em 15 dias.
Segundo os especialistas, a interrupção do tratamento com o chamado coquetel -combinação de dois ou três medicamentos antiretrovirais- pode criar cepas resistentes do vírus HIV. O aparecimento dessa resistência abriria o caminho para infecções oportunistas graves. Só no Estado de São Paulo, cerca de 6.000 doentes estão tomando três medicamentos.
Em Brasília, a Coordenação Nacional de Aids disse que ainda aguarda uma posição do ministro da Saúde, Carlos Albuquerque, quanto à liberação do dinheiro. Segundo a coordenação, o ministro cumprirá o prometido, que, aliás, está previsto em lei. Hoje, o coordenador de Aids, Pedro Chequer, dá entrevista sobre o assunto.
Ainda de acordo com a coordenação, os principais remédios em falta são os inibidores de protease indinavir e saquinavir. Para poder comprá-los no mês de outubro, faltam R$ 50 milhões, de um total de R$ 105 milhões de uma "compra em andamento". No total, para pagar as drogas até o fim do ano, faltariam mais R$ 145 milhões.
Mario Scheffer, do Grupo pela Vidda e membro do Conselho Nacional de Saúde, disse que desde junho passado o ministério vem sendo alertado para a falta de medicamentos. "Em setembro, o conselho voltou a lembrar o ministro", disse. Em agosto passado, coordenadores dos programas estaduais e municipais de Aids estiveram em Brasília e fizeram o mesmo alerta. "O Brasil, que teve o mérito de ser o primeiro país a oferecer medicação aos doentes, corre o risco de criar uma resistência coletiva para os antiretrovirais."
O infectologista Vicente Amato Neto diz que o governo comete um sério equívoco ao demorar a liberar os remédios. "As novas drogas vêm reduzindo em muito o número de internações e melhorando a qualidade de vida dos pacientes", disse. "As vantagens, mesmo em termos de custos para o país, são evidentes. Mas o pessoal da área econômica não tem sensibilidade para a saúde pública."
O médico David Uip disse que a interrupção de tratamento pode levar ao surgimento de um "supervírus", com consequências imprevisíveis. "Não estamos brincando. Começamos esse tratamento e não podemos parar."
Os medicamentos já estariam faltando em algumas cidades e regiões. São Paulo, por exemplo, estaria emprestando alguns tipos de remédios para os Estados do Rio, Pernambuco e Pará.
(AURELIANO BIANCARELLI e LÚCIA MARTINS)

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