São Paulo, terça-feira, 7 de outubro de 1997
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Croatas se rendem ao tribunal da ONU

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Dez croatas da Bósnia suspeitos de crimes de guerra se entregaram às autoridades internacionais e foram ontem levados para a Holanda, onde devem ser julgados.
O grupo, que inclui o líder bósnio-croata Dario Kordic, um dos homens mais procurados pelos crimes cometidos durante a Guerra da Bósnia (1991-1995), vai ficar detido em Sheveningen, Haia.
Os acusados devem comparecer nos próximos dias perante o Tribunal Penal Internacional para declarar inocência ou culpa. As datas dos julgamentos não foram marcadas.
Antes de partir de Split, na Croácia, Kordic disse estar partindo "com a consciência limpa perante Deus e o povo croata". Ele afirmou que provará sua inocência. "Superaremos isso como superamos tudo até agora, retornaremos com nossas cabeças levantadas."
A rendição dos suspeitos foi elogiada pelos EUA, um dos patrocinadores do acordo de Dayton, que pôs fim aos conflitos na região. "É um pequeno passo, mas é muito importante", disse William Cohen, secretário da Defesa dos EUA. Os norte-americanos vinham aumentando a pressão sobre a Croácia para que suspeitos de crimes de guerra se entregassem.
Empréstimos do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a Croácia foram bloqueados, e Washington prometeu continuar aumentando o isolamento do país.
Kordic é o último importante líder croata a se apresentar ao tribunal internacional, o que concentra o foco das autoridades de Haia sobre os criminosos de guerra sérvios. Em abril de 1996, o general croata Tihomir Blaskic havia se entregado.
Blaskic e Kordic são acusados de ter liderado uma campanha de extermínio de muçulmanos no vale do Lasva, região central da Bósnia.
Segundo os promotores do tribunal de Haia, os crimes cometidos sob a supervisão dos dois líderes croatas foram tão sistemáticos e disseminados que quase toda a população muçulmana da área foi exterminada ou expulsa.
"Eles são criminalmente responsáveis pelo assassinato ou por provocar lesões em civis e prisioneiros muçulmanos, de atacar ou bombardear cidades indefesas e de atacar deliberadamente a população civil", afirmou a acusação.
Seis dos suspeitos que se entregaram ontem são acusados de participar diretamente do massacre em Ahmici, no vale do Lasva. Segundo a acusação, mais de cem civis muçulmanos, incluindo crianças e mulheres, foram executados. Relatos na época disseram que algumas pessoas foram queimadas vivas em suas casas.
Os conflitos na Bósnia começaram com a desintegração da Iugoslávia. A república declarou sua independência em 1991, dando início a conflitos entre as três etnias que a compõem -croatas, muçulmanos e sérvios.

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