São Paulo, terça-feira, 7 de outubro de 1997
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ATENÇÃO COM A MISÉRIA

Em 1985, 30,6% da população de crianças menores de cinco anos da cidade de São Paulo apresentava crescimento inferior ao potencial genético -um dos principais indicadores de desnutrição infantil. Em 1996, o percentual de crianças da mesma faixa etária nessa situação era de 13,7%. Essa melhoria foi registrada por estudo do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde Pública da USP, como revelou ontem esta Folha.
Como é quase óbvio, há uma relação direta entre desnutrição infantil e miséria. Em 1985, 22,9% das crianças com menos de cinco anos de São Paulo viviam em famílias com renda mensal inferior a meio salário mínimo; no ano passado, o percentual de crianças nessa situação era de 9,2%.
Outros indicadores, tais como o número de casas servidas por água encanada (87,8% em 85 contra 94,4% em 96) ou o índice de escolaridade das mães, reforçam a tese de que políticas públicas elementares e às vezes pouco perceptíveis acabam sendo decisivas para combater um verdadeiro câncer social, como é o caso da desnutrição infantil.
É certo que tais progressos merecem comemoração, mas os dados da pesquisa pedem uma reflexão mais detida. Segundo os pesquisadores, saneamento, acesso universal à saúde, mães mais escolarizadas e menor fecundidade contribuíram para diminuir a chaga social.
Não houve, portanto, nenhuma revolução, embora a ainda precária universalização do atendimento de saúde e da previdência a partir dos anos 80 tenha sido uma mudança importante, assim como a estratégia velada e difusa do poder público de diminuir o crescimento populacional. A distribuição de renda, por sua vez, continuou péssima no período estudado, e as melhorias ocorreram mesmo na "década perdida" marcada pela hiperinflação.
Esse conjunto de dados e causas pelo menos levanta a hipótese de que, com um pouco mais de esforço e de eficiência, as políticas públicas poderiam tornar essa sociedade um pouco menos injusta.

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