São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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'Rodovia da morte' tem 'buracos oficiais'

BERNARDINO FURTADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na rodovia Régis Bittencourt, trecho da BR-116 que liga São Paulo a Curitiba (Paraná), os buracos têm caráter oficial.
"Buracos na pista nos próximos 50 km", diz no km 418 uma das placas do DNER pintadas em amarelo não deixando dúvidas sobre a extensão do problema.
As placas não mentem. No km 379, basta percorrer 200 metros para contar 40 buracos. Há nesse trecho uma "família" de quatro buracos distantes 50 cm uns dos outros. No km 382, uma caminhada de 30 passos revela uma sequência de 14 buracos coroada por uma cratera de um metro de comprimento por 60 cm de diâmetro.
Nem as pontes escapam: no km 389, próximo à cidade de Miracatu (SP), uma ponte de 30 metros tem 24 buracos.
O paranaense Luciano Gonçalves, 24, caminhoneiro há cinco anos, recentemente sentiu no bolso o impacto dos buracos da Régis Bittencourt. Há cerca de 20 dias, quando levava mais uma carga de ferro para Curitiba, o caminhão de Gonçalves teve uma roda quebrada ao passar num buraco, a cerca de 50 km da divisa com o Paraná.
"Tive um prejuízo de R$ 300 porque, além da roda quebrada, o pneu e a câmara de ar ficaram destruídos. Essa promessa do presidente Fernando Henrique de tapar os buracos das rodovias federais até o fim de outubro parece coisa de político em campanha, que promete sem poder cumprir", disse Gonçalves.
Nos 280 quilômetros da Régis Bittencourt entre a cidade de São Paulo e a divisa com o Paraná percorridos pela Folha no dia 7 de outubro, apenas uma equipe de três operários com um caminhão e pás tapavam buracos no km 430 da rodovia.
Quanto à sinalização horizontal da pista, segundo item da promessa do presidente Fernando Henrique Cardoso, a Régis Bittencourt está uma lástima, especialmente entre o km 340 e o km 500.
Por causa dessa deficiência, viajar à noite na Régis é atualmente uma aventura para lá de perigosa. Com pista singela com duas faixas sem guias ou canteiro de separação e tráfego intenso de caminhões, a estrada não oferece as mínimas condições para os motoristas dirigirem com segurança.
Na Fernão Dias, trecho de 586 quilômetros da BR-381 que liga São Paulo a Belo Horizontes (Minas), não há sinalização de buracos. Em compensação, um trecho de 50 km entre as cidades mineiras de Três Corações e Lavras ganhou uma placa com a expressão "trecho em condições precárias".
Logo depois do trevo de acesso a Três Corações, um buraco já ganhou fama pelas acidentes que vem provocando. Nos últimos oito dias, três caminhões capotaram no mesmo buraco, dois deles no último dia 7, provocando a morte de um caminhoneiro que levava uma carga de ração para gado. As circunstâncias dos acidentes são idênticas:
Como o acostamento e parte da borda da pista estão destruídos, não há espaço para dois caminhões passarem lado a lado. Um dos caminhões tem que desviar para fora da pista para permitir a passagem do que vem em sentido contrário, cai no buraco de 5 m de comprimento e 50 cm de largura e o capotamento é inevitável.
A cena foi descrita para a Folha no dia 8 de outubro pelos guincheiros José Olimpio Silva Neto, 32, e Rudney Prado, 28, que ganham a vida retirando carros e caminhões acidentados na Fernão Dias na proximidades de Três Corações. "Essa promessa de que os buracos das rodovias federais vão estar tapados até o final do mês é para quem acredita em contos de fadas", disse Prado.

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