São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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Roubo e furto se alastram pela periferia

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pobre está roubando pobre -essa é a novidade na periferia de São Paulo. A violência está se alastrando e derrubando regras clássicas da polícia.
Já não vale mais a noção de que a periferia é palco de homicídios e o centro expandido, delimitado pelas marginais, de roubos e furtos. O número de homicídios está em queda nas regiões pobres, mas o de roubos e furtos é crescente.
O caso mais contundente é o da zona leste. O número de homicídios intencionais na 8ª Delegacia Seccional, que engloba nove distritos policiais, teve uma queda de 19% entre janeiro e setembro deste ano. Mas houve aumento de roubos (43%), de furtos (17%), e de furto e roubo de veículos (14%).
Na zona sul, a delegacia seccional registra uma queda de 23% em homicídios. Mas os furtos aumentaram 86%, os roubos, 27%, e o furto e roubo de veículos, 60%.
Na comparação entre janeiro e agosto deste ano com o mesmo período do ano passado, a situação na zona sul é melhor: caiu o número de veículos furtados ou roubados (6,1%), os roubos aumentaram só 0,34% e os furtos, 17,8%.
Desemprego e crack
Ninguém tem uma explicação fechada para o novo fenômeno, mas há pistas. "Isso pode estar acontecendo porque a polícia está priorizando o combate aos homicídios", diz Paulo Mesquita, cientista político e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP.
Há razões mais comezinhas, segundo Antonio Mestre Junior, delegado-titular da 6ª Delegacia Seccional: desemprego, evasão escolar e o vício em crack.
"Roubo virou um meio de vida para o desempregado. As vítimas são trabalhadores e os ladrões, desempregados. Como o ladrão não tem dinheiro nem para o ônibus, ele rouba por aqui mesmo", diz Mestre Junior, da zona leste.
A queda de homicídios na zona sul decorre na combinação de ações da Polícia Militar e da Civil, segundo o delegado seccional Domingos Paula Neto.
O policiamento preventivo está sendo feito aos sábados à noite -dia e período em que ocorria a maioria dos crimes- nos locais que concentravam as mortes. E a Delegacia de Homicídios está conseguindo prender os autores. "Quando há punição, a criminalidade cai", diz Paula Neto.
O crescimento de roubo de carro na periferia é consequência do aumento da frota entre os mais pobres. O que intriga a polícia é o que os ladrões fazem com os carros, já que 80% deles na zona leste são encontrados -índice de agosto.
Já o roubo a ônibus, que saltou de 136 em janeiro para 221 em setembro na zona leste, tem uma razão clara. Gaveta de ônibus é um dos raros lugares onde há dinheiro vivo na periferia.
(MCC)

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