São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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Salas de leitura são precárias

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

As salas de leitura das escolas municipais de São Paulo visitadas pela Folha funcionam de forma precária. Alunos e professores reclamam.
Por um sistema irracional de seleção, o orientador de sala de leitura é o professor de nível 1, com formação em magistério apenas. Somente se não houver esse profissional disponível na escola e na rede é que a vaga se abre para professores de outros níveis. Por esse critério, há escolas que ficam meses sem orientador de sala.
Na EMPG (Escola Municipal de Primeiro Grau) Sérgio Milliet, na zona leste, metade da escola estava há quase um ano sem frequentar a sala por falta de orientador.
Os professores de português estavam trazendo de suas próprias casas os livros que circulavam entre os alunos de 5ª a 8ª série.
"Este ano está difícil de trabalhar porque nós não podemos usar a sala de leitura. Aqui a clientela é pobre. Quando os alunos têm acesso à sala lêem mais", diz a professora Samae Takitani.
Segundo Alexandre Peggion, diretor da escola, "os alunos não podem frequentar a sala sozinhos porque vira terra de ninguém. Por mais que os professores tenham boa vontade, os livros ficam desorganizados. E depois, isso está na legislação. A portaria diz que o responsável pela sala é o professor-orientador de sala de leitura".
Na EMPG Cacilda Becker, zona sul, todos os 20 alunos com quem a reportagem conversou tinham queixas. "A professora falta demais e a sala só fica aberta quando estamos em horário de aula. Não dá tempo de fazer pesquisa", contam Lúcia Arbalo e Tatiana Galleta, da 6ª série.
A professora Vera Trassi, orientadora de sala de leitura do Cacilda Becker, diz que o acervo tem 7.000 livros, mas que nem todos estão nas prateleiras, por falta de espaço. A Folha constatou que o restante fica no almoxarifado da escola, que também armazena material de limpeza e ratos.
Os alunos da 5ª série não gostaram do livro "Linea no Jardim de Monet", que leram por indicação da professora Trassi. "Não tem aventura, não tem ação nem suspense, é uma história morta."
Eles também se queixaram de que só podem fazer empréstimo de livros se trouxerem de casa um saco plástico para transportá-lo. "Às vezes, a gente esquece o saco." Segundo a professora, "o objetivo é eles aprenderem a proteger o livro".
(MF)

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