São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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Marketing editorial 'bombardeia' escolas

FABRIZIO RIGOUT
DA REPORTAGEM LOCAL

Para um autor infanto-juvenil estreante, ser adotado por um colégio com muitos alunos e reputação de escola séria significa o adeus à massa não diferenciada dos cerca de 80 lançamentos anuais que todas as grandes editoras faz, somente de obras de ficção recomendadas para 5ª a 8ª séries.
Para vender os 10 mil exemplares iniciais de um livro desconhecido, editoras empregam o marketing do caixeiro-viajante. Despacham para escolas de todo o Brasil representantes com um catálogo debaixo do braço e uma pilha de "exemplares do professor". O objetivo é persuadir professores e coordenadores. E funciona.
"Nosso critério de seleção é, em primeiro lugar, o eixo temático, determinando o que se pretende discutir com cada faixa etária", explica Cristina Lobato, coordenadora de português de 5ª a 7ª séries do Colégio São Luís, dos mais tradicionais de São Paulo. "Caso não tenhamos uma obra em mente, procuramos nos catálogos um título que se encaixe. É nesse momento que as editoras podem exercer sua influência."
Transversais
Na rede pública, o novo grande filão editorial são os "temas transversais" -assuntos que perpassam a divisão curricular e podem ser dados em mais de uma matéria- definidos pelo MEC.
As editoras investem em coleções sobre meio ambiente, ética, pluralidade cultural e orientação sexual e as vendem como "suporte didático" ao professor.
"São livros que vão mais a fundo em temas atuais, como o 'Ética e Cidadania', do Betinho", exemplifica Roberto Alonso, gerente de marketing da editora Moderna.
Outra forma de seduzir professores e diretores é presenteá-los com coleções bem encadernadas cujas embalagens servem de escaninho ou porta-papéis, convidá-los para noites de autógrafos e, principalmente, promover visitas dos autores às escolas, custeadas pelas próprias editoras.
Os livros não usados pelas escolas vão para suas bibliotecas ou são doados para terceiros. A Folha apurou que é comum escolas da rede pública solicitarem as "sobras" das escolas privadas.
(FR)

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