São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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Primeiro assalto

MARCELO DAMATO; AUGUSTO GAZIR
DA REPORTAGEM LOCAL

e AUGUSTO GAZIR
O ministro dos Esportes, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, terá que dobrar os membros da comissão especial do Congresso Nacional se quiser ver aprovado seu projeto de lei para o esporte.
O texto propõe mudanças estruturais para o esporte no Brasil, como a transformação obrigatória em empresas dos clubes com esporte profissional, o fim do passe, a fiscalização dos clubes e federações pelo Ministério Público e a proibição da abertura de bingos.
Nesta semana, a Folha entrevistou 28 dos 31 membros da comissão e apurou que a maioria é contra o clube-empresa obrigatório e o fim do passe.
O ministro só conta com apoio, bastante expressivo, é verdade, no terceiro ponto: a fiscalização do esporte pelo Ministério Público (veja a votação de cada deputado no texto abaixo). Os votos para o projeto do esporte não dependem do Estado a que pertence o deputado e só em parte da cor política.
Os partidos de oposição (PT, PC do B, PSB e PDT) tendem a dar mais apoio a esse projeto que é do governo do que os partidos governistas, especialmente o PPB, mas essa não é uma tendência geral. O PFL, politicamente mais próximo do PPB do que do PT, tende a dar mais votos a favor das mudanças.
Há casos como de Carlos Santana. Apesar de filiado ao PT, as posições desse deputado fluminense se parecem mais com as do pepebista Eurico Miranda do que com as do seu próprio partido.
A explicação aí é clubística, e não político-partidária. Apesar de se oporem no espectro político, ambos torcem para o Vasco.
A frustração do ministro Pelé não deve parar por aí. As respostas dos deputados mostram que, por enquanto, nem mesmo uma previsão sua, feita na quarta-feira, está se concretizando.
"Agora, quem for contra o projeto, que foi feito pelo bem do país, vai ter que mostrar sua cara", dissera ele no dia da instalação da comissão. Vários deputados, de quase todos os partidos, se esquivaram de dar respostas.
Alguns, como a petista Sandra Starling, disseram que vão acompanhar a posição do partido, que por enquanto só deu apoio "aos princípios que fundamentam o projeto", principalmente sua propalada função moralizadora.
O goiano Jovair Arantes (PSDB), vice-presidente do Conselho Deliberativo do Atlético Goianiense, disse, por sua vez, que na segunda-feira vai ouvir representantes de vários setores do futebol.
Mas algumas alegações surpreendem. "Não esperava ser indicado para a comissão. Não conheço o projeto ainda. Vou estudar", declarou o deputado Mauro Lopes (PMDB-MG).
A alegação de Lopes se choca com os fatos. O PMDB foi o último partido a fazer a indicação, porque mais de 40 deputados pleitearam a indicação.
Um dos problemas do líder do partido, Geddel Vieira Lima (BA), foi como acomodar tantos candidatos em seis vagas.
Já o deputado Romel Anízio esquivou-se duas vezes. Na quarta de manhã, alegou ignorar o texto, mas prometeu a resposta para aquela tarde. Mas, no dia seguinte, afirmou: "Ainda não li o projeto porque fiquei fora uma semana por problemas de saúde", relevando o fato de que o projeto já estava na Câmara havia 23 dias.
Mas um fator conta a favor do ministro. Boa parte dos membros da comissão ainda não entendeu alguns pontos da lei.
Essa comissão vai analisar em caráter preliminar o texto enviado por Pelé. O que for aprovado lá será enviado ao plenário, que poderá alterá-lo como bem quiser. Como está tramitando em regime de urgência, a votação em plenário tem de ocorrer até o dia 3.

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