São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 1997 |
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McCabe revela o desencanto irlandês em 'Nó na Garganta'
MARCELO REZENDE
Mostrando a trajetória de brincadeiras e crime de uma criança em uma pequena cidade irlandesa, McCabe -que já havia publicado vários quase ignorados livros- foi colocado ao lado de Roddy Doyle (autor de "Paddy Clark, Ha Ha Ha") como novo porta-voz literário da cultura, desencanto e esperanças de seu país. "Nó na Garganta" (lançado em 1992) chega agora ao Brasil pela Geração Editorial; McCabe, a convite de sua editora e da Folha, estará em São Paulo amanhã para falar sobre seu trabalho. O evento será às 19h30 no auditório do jornal (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar, SP). Os interessados devem fazer reservas entre 14h e 17h, pelo tel. 011/224-3473. Em entrevista feita na última semana, por telefone, de Londres, McCabe falou à Folha sobre seus heróis na literatura, a Irlanda e a versão de "Nó na Garganta" para o cinema, dirigida por Neil Jordan. * Folha -"Nó na Garganta" tem sido comparado ao romance "O Som e a Fúria", do escritor norte-americano William Faulkner, pela forma como a narrativa é construída. Para o sr. essa comparação é aceitável? Patrick McCabe - Muitas pessoas fazem essa observação, estabelecendo uma ligação entre "Nó na Garganta" e "O Som e a Fúria", de Faulkner. Tudo que posso dizer é que conhecia a obra dele, mas não tão bem para que houvesse uma ressonância na minha. Do mesmo modo que "O Som e a Fúria", meu livro se inicia como um conto de fadas e termina à maneira de uma novela gótica. Uma mistura do imaginário infantil e das misérias humanas. As semelhanças são apenas coincidências. O escritor de que me sinto mais próximo é James Joyce. Folha - Foi a possibilidade de realizar experimentações com a linguagem que o levou ao "fluxo de consciência" de Francie Brady, o narrador de "Nó na Garganta"? McCabe - Contar a história do ponto de vista de uma criança foi o resultado de um acaso e de um esforço. Experimentei outros focos narrativos até encontrar o de Francie Brady. Folha - A história de Brady é parte da história da Irlanda? McCabe - Não. É parte da história do mundo. Folha - "Nó na Garganta" deu também origem a uma peça, que o sr. escreveu ao mesmo tempo que o romance. McCabe - A peça se chama "Frank, o Porco, Diz Olá". É completamente diferente do livro em seu estilo. Apesar de ser -no conteúdo e em suas intenções- igual ao romance. Na peça, os dois personagens convivem em um mesmo plano. O velho Francie e o jovem Francie. Folha - E sobre a versão para o cinema de Neil Jordan, em que o sr. é o autor do roteiro? McCabe - O livro é o filme. O filme é o livro. A versão para o cinema está muito próxima do romance. Trabalhar na realização de um filme foi para mim uma experiência maravilhosa. É muito difícil escrever com o objetivo de ter suas palavras filmadas. Quando você tem alguém como Neil Jordan por perto tudo fica muito mais fácil. Ele, além de cineasta, é um escritor. Trabalhar ao seu lado foi magnífico. Folha - O sr. afirmou que sente, em sua obra, afinidades com James Joyce. Isso significa uma distância dos novos nomes, como Roddy Doyle? McCabe - Não, realmente não existe qualquer proximidade com a produção atual. Estou ao lado dos velhos. Joyce é meu herói. Mas sobre ter uma voz nitidamente irlandesa... Penso que talvez em "Nó na Garganta" exista algo assim, mas cada livro é diferente do outro e tudo depende dos personagens que você cria. Esse "tom irlandês", possivelmente, é mais nítido para você do que para mim. Folha - Sua origem o coloca muito distante de qualquer romancista nascido na Inglaterra? McCabe - Meu livro não é uma "história social" de um povo. É apenas um conto de fadas com um crime no final. Para mim não há diferença entre ser um autor inglês ou irlandês, brasileiro ou espanhol. Para perceber, entender e escrever sobre o mundo você não precisa ser irlandês. Precisa apenas ser escritor. LEIA MAIS sobre Patrick McCabe à pág. 4-9 Próximo Texto: Obra do autor é acompanhada de rock Índice |
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