São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Free Jazz põe Brasil na rota dos grandes festivais
GUGA STROETER
A estabilidade gerou a credibilidade. Sabemos pelos agentes e empresários internacionais que todos os artistas querem atuar no Brasil. Talvez o leitor se recorde do panorama de dez anos atrás: um grupo pop mediano fazia concertos no estádio do Morumbi lotado com direito a pânico e pisoteamento da platéia despirocada. Isso ocorria porque ninguém vinha, a não ser artistas decadentes querendo ganhar uns trocados ou posar de superstar. Hoje isso mudou. Nosso calendário acolhe tantos shows e concertos quanto muitas capitais européias. Os músicos querem vir ao Brasil porque sabem que o Free Jazz é um evento sério. Alguns chegam curiosos em função de dois apelos que fizeram a fama internacional da nação: as mulheres e a música. Além da lascívia, os "gringos" reconhecem a força da tradição musical brasileira, têm curiosidade e respeito pelo Brasil enquanto exportador de boa música. As constantes deste ano foram a retomada da instrumentação acústica e um retorno atualizado à estética dos anos 50. Para nossa surpresa, assistimos a uma série de concertos em que nenhum instrumento era plugado a uma tomada. A nova geração de instrumentistas é brilhante. Todos estudaram tudo, todos conhecem a trajetória completa do jazz. Não sabemos para onde vai o jazz. Gostaríamos que ficasse um pouco por aqui, influenciasse músicos brasileiros e ainda contribuísse na formação da audição criativa da nossa juventude. O Brasil é um país rico em música, mas que não digeriu nem codificou alguns dos seus diversos idiomas. Em muitas das nossas universidades públicas, por incrível que pareça, ensina-se descaradamente o ódio à música popular em geral. Imaginemos se Carlinhos Brown e cada um dos seus percussionistas, além de tocar os tambores, estudassem duas horas de piano por dia. Não ia ter para mais ninguém. Faríamos a melhor música do mundo e talvez pudéssemos libertar a alma de nossos instrumentistas criativos, hoje condenados a acompanhar artistas sertanejos. Texto Anterior: Ingressos para ópera "Aida" começam a ser vendidos hoje Próximo Texto: Mostra traz filmes etnográficos ao Rio Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |