São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 1997
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AMIGOS, NEGÓCIOS À PARTE

O presidente Fernando Henrique Cardoso explicitou anteontem, no discurso de boas-vindas a seu colega norte-americano Bill Clinton, a política externa de seu governo, talvez a única que está amparada em um razoável consenso nacional.
Sem bravatas, mas também sem qualquer complexo de inferioridade, o presidente definiu claramente os termos do jogo entre os dois países no que se refere ao mais ambicioso projeto comum em que estão empenhados, a Alca (Área de Livre Comércio das Américas). Vale a pena, por isso, reproduzir o período essencial do pronunciamento de FHC:
"Nossa agenda se pauta por propósitos comuns, sem deixar de oferecer um amplo espaço para que se expressem as nossas fortes individualidades, nossos interesses legítimos. E, muitas vezes, esses interesses não coincidem inteiramente. Ou são mesmo concorrentes".
Em meia dúzia de linhas, FHC resumiu o que de fato conta nas relações entre os dois maiores países das Américas. É legítima, de fato, do ponto de vista norte-americano, a pressão para que a Alca se construa rapidamente. Significaria abrir ainda mais os mercados latino-americanos para a hipercompetitiva economia dos Estados Unidos. Mas, ao contrário de uma frase tristemente antológica de um ex-chanceler brasileiro, segundo a qual "o que é bom para os EUA é bom para o Brasil", FHC deixa claro que o Brasil não renuncia ao legítimo direito de defender sua "individualidade", seus interesses divergentes e até mesmo concorrentes com os dos EUA.
Não se trata de transformar as diferenças em fonte de conflito. Trata-se de usar o puro bom senso, o qual diz que, em relações internacionais, o que conta não são amizades, mas interesses. E o interesse brasileiro, no momento, é claramente "concorrente" com o norte-americano.

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