São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Agricultura social

ARLINDO PORTO

Há 87 anos, o decreto nº 8.319 criava, na estrutura do Ministério da Agricultura, a Escola Superior de Agronomia e Medicina Veterinária, subordinada ao Departamento de Produção Animal, a quem cabiam a "formação do profissional e o controle da profissão".
Desde então, o ministério e essas profissões se confundem. Se no passado as atividades davam dimensão técnica à produção agrícola nacional, hoje elas auxiliam o Brasil a participar, com êxito, da verdadeira guerra no intercâmbio comercial entre os países. As normas que regem as batalhas são as dos mercados abertos: redução ou eliminação de subsídios à produção e queda de barreiras comerciais e alfandegárias.
Participar desse novo cenário significa, para o Brasil, ter política agrícola permanente, com destaque para segurança alimentar, qualidade e produtividade. Nossa inserção no mercado externo deve permitir a ampliação do emprego e da renda agrícola no país.
Ciente do desafio, o Ministério da Agricultura oferece aos produtores alternativas de investimento e custeio, melhorando e intensificando o uso de tecnologia aplicada. Financia a assistência técnica e a extensão rural e desburocratiza o acesso ao crédito, em especial para a agricultura familiar.
O IBGE prevê que continuará a redução da população ativa na agricultura. Isso significa que cada vez menos gente produzirá para mais gente morando nas cidades. Esse fato evidencia a necessidade de intensificar o uso de tecnologia (de produção, de processo e de gerenciamento) no setor rural.
Hoje, cada produtor atende à demanda de dez pessoas. No próximo século, atenderá a 20, sendo 15 na área urbana e cinco no mercado externo, para manter o crescimento das exportações. Isso significará dobrar a produção nacional.
O setor agrícola está acostumado a desafios. Garante mais de 30% das exportações nacionais, fornece matéria-prima para quase 100 mil agroindústrias e mantém 18 milhões de pessoas ocupadas no campo.
A rapidez de resposta do setor aos planos econômicos e o crescimento das exportações de produtos agrícolas mostram a eficiência do produtor rural. Revelam a capacitação dos profissionais e técnicos do setor em pesquisa, fiscalização, ensino e extensão, melhorando a qualidade do produto.
A veterinária permitiu ao país aumentar a produtividade e a produção de carnes ricas em proteína e aminoácidos essenciais, armas usadas no combate à fome. Auxiliou o meio ambiente, na medida em que produzir em base científica significa elevar produtividade, reduzir custos, aproveitar resíduos.
A pesquisa veterinária com animais transgênicos mostra que eles serão potenciais doadores de órgãos para transplante humano. O criatório de ovelhas foi para o tubo de ensaio. É uma nova ciência, que, em meses, chegará a alterações que a natureza levaria séculos para promover.
O agrônomo também participou da modernização e do desenvolvimento rural, aplicando seu conhecimento na melhoria das habitações da "roça" e na contenção da água, que depois foi desviada para a irrigação.
Além disso, aprimorando seu campo de trabalho, aplicou-se na genética vegetal, promovendo a clonagem, a transferência de genes, o aprimoramento das espécies nativas e a aclimatação de espécies exóticas, desenvolvendo novos cultivares. Ajudou o produtor a reduzir custos, com técnicas de manejo adequadas, e levou às comunidades rurais a informação necessária para obter ganhos no mercado.
Ao comemorar as datas nacionais do médico veterinário e do engenheiro agrônomo, o Ministério da Agricultura une sua manifestação àquelas promovidas pelas entidades de classe para louvar nossos profissionais.
Eles certamente estarão pensando sobre o poder e a ética de suas atividades e sobre os limites políticos e morais para os avanços da ciência. Cabe ao veterinário e ao agrônomo, neste momento, auxiliar a sociedade a defender a totalidade física e espiritual do homem. Afinal, são os valores permanentes que marcam e distinguem essas atividades ao longo de nossa história.

Texto Anterior: Mercosul: precisamos seguir em frente
Próximo Texto: Artigo oportuno; Clinton; Isonomia; Destaque indevido; Ascensão milagrosa; Ex-combatentes; Manipulação da Boa-fé; Só para alguns; Erro duplo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.