São Paulo, sábado, 18 de outubro de 1997
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Governador nega uso eleitoreiro de verba

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governador de Rondônia, Valdir Raupp (PMDB), disse à Folha temer pela não liberação de verbas federais ao seu Estado, em consequência da repercussão da divulgação do conteúdo de conversas suas com o deputado Emerson Olavo Pires (PSDB-RO).
Nessas conversas, gravadas pelo deputado, Raupp afirma que vai usar R$ 66 milhões que receberá do BNDES para tocar obras e garantir a própria reeleição em 98.
O governador disse que a intenção de realizar obras com os recursos que receberá do governo federal não é um projeto eleitoreiro: "Se o presidente está bem em Rondônia, se o governador está bem, é porque estamos realizando obras". A seguir, os principais trechos da entrevista:

Folha - Governador, a Ceron tem uma dívida de R$ 400 milhões. Por que esses R$ 66 milhões serão usados justamente para pagar a dívida com o governo do Estado?
Valdir Raupp - A empresa já está com administração compartilhada e há um cronograma de pagamento de credores. Está sendo negociado a parte de encargos sociais, de INSS, tudo parceladamente. Os outros créditos já estão sendo pagos. Está sendo feito um entendimento com os credores. A empresa está passando por um processo de saneamento, para a sua privatização.
Folha - Se o PMDB decidir em convenção nacional que terá candidato próprio a presidente, como o sr. fica?
Raupp - Eu apoiei integralmente a candidatura do doutor Ulysses (Guimarães) em 89, mesmo sabendo que ele iria perder a eleição. Em 94, eu apoiei o Orestes Quércia. Agora, eu não vejo no PMDB... não estamos vendo alternativas, nomes com condições de vencer as eleições. Nós já fomos para o sacrifício uma vez, duas vezes. Vamos a terceira vez? Não foi preparado um candidato. A minha tese, como a de muitos outros governadores, deputados e senadores, é a de apoiar agora o Fernando Henrique e lançar, em 2002, um candidato para disputar com o PFL e o PSDB.
Folha - Havia seis meses que o sr. vinha tentando a liberação de recursos para sanear a Ceron, também sem sucesso. Somente agora o sr. conseguiu o apoio do presidente para liberar esses recursos. Isso coincide com o momento em que o senhor leva ao presidente um documento manifestando apoio à reeleição dele. Não é muita coincidência?
Raupp - Não. Não tem nada a ver. Eu venho pedindo isso há muito tempo. É normal um governador estar em audiência com o presidente, para pedir auxílio ao seu Estado. O meu Estado é carente. Não é nada demais o governador pedir socorro ao presidente da República e aos ministros. Não vejo coincidência nenhuma nisso.
A minha manifestação de apoio ao presidente foi feita há mais de dois anos. Eu tenho pesquisas no Estado que mostram que mais de 60% da população quer a reeleição do presidente. O governador está ao lado do povo. O que é bom para o Estado é bom para o governo.
Folha - O senhor fala na gravação que, com esses recursos, vai tocar as obras no Estado e garantir a sua reeleição já no primeiro turno. Não seria esse um projeto eleitoreiro?
Raupp - Veja bem, qualquer governador quer tocar obras, quer realizar obras sociais, de infra-estrutura. Se o presidente está bem em Rondônia, se o governador está bem, é porque estamos realizando obras. 78% da população está satisfeita com o rumo do Estado.
Não vejo nisso um trabalho eleitoreiro. Então, se a maioria da população está satisfeita e existe um projeto de reeleição, eu acho normal um governante ser reeleito.
Folha - O senhor teme que, de alguma forma, a divulgação dessa fita acabe prejudicando a liberação de recursos para o Estado?
Raupp - Primeiro, não tem acordo nenhum. Houve um pleito do governo, durante quase três anos, para que o governo federal liberasse recursos para Rondônia. E, agora, não é de graça. Nós estamos oferecendo as privatizações.
Mas é claro que a oposição, trabalhando diuturnamente contra a liberação de qualquer recurso, acaba atrapalhando, inibindo o governo federal a liberar verbas.

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