São Paulo, sábado, 18 de outubro de 1997 |
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Tese vê estabilização após encilhamento
OSCAR PILAGALLO
O aspecto central dessa crise foi o chamado encilhamento, como ficou conhecida a desenfreada especulação na Bolsa do Rio. Viabilizado pela política de crédito fácil, com a qual o governo procurava compensar a elite pelo fim da escravidão, o encilhamento desaguou num processo inflacionário que marcou o período. A origem etimológica do termo nunca foi estabelecida. Ficou-se com a hipótese mais provável, que remete aos preparativos finais das corridas de cavalo e passa, por analogia, a idéia de jogatina. Mais do que com o encilhamento -movimento já explorado pela historiografia brasileira-, Schulz, doutor pela Universidade de Princeton, onde escreveu a tese que agora é publicada em livro, está preocupado com o processo que pôs fim a seus efeitos. O processo para reconquistar a estabilidade da economia durou pelo menos uma década após o fim do encilhamento, que data de 1891. O marechal Floriano Peixoto tentou, mas seu esforço foi minado pelos gastos militares. O presidente seguinte, Prudente de Morais, enfrentou a forte queda dos preços do café, que então dominava a economia brasileira. Foi só com o presidente Campos Sales que o Brasil implantou, entre 1898 e 1901, um programa de estabilização. O mérito do plano se deve ao ministro da Fazenda, Joaquim Murtinho, o homem forte das finanças, a quem Schulz chega a comparar, no plano político, a Peixoto, o Marechal de Ferro. Murtinho optou por um programa ortodoxo. Cortou gastos públicos, aumentou os impostos e recusou-se a emitir dinheiro. Com isso, fez a inflação despencar e abriu caminho para um período de forte expansão econômica e prosperidade que caracterizou o Brasil do início do século. O livro é o primeiro de uma série de estudos comparativos sobre inflação na América Latina que terão o apoio do Instituto Fernand Braudel, conhecido pela defesa da teoria econômica liberal. Em que pesem todas as diferenças que separam o Brasil de cem anos atrás do atual, é tentador procurar estabelecer paralelos entre aquela estabilização e o Plano Real. O autor, embora aponte o "interesse especial hoje em dia" que o capítulo sobre estabilização pode despertar, evita a armadilha. Para além das bases concretas de comparação, a tentação denuncia uma leitura tucana que o livro não autoriza. Tucana porque a estabilização do final do século passado, apesar das críticas de ter causado sofrimento além do necessário, tem um final feliz. E a estabilização do Real, se tem seu êxito indiscutível, ainda é um livro inacabado. Texto Anterior: STJ julga na quarta se Tess concorre à banda B Próximo Texto: Preço de alimentos sobe nos supermercados Índice |
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