São Paulo, sábado, 18 de outubro de 1997
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No papel, um timão; na prática, um papelão

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
EDITOR DO PAINEL S/A

No papel, é de fato um timão. Na prática, é um papelão. O Corinthians corre o risco concreto de rebaixamento -se é que existe mesmo esse tal rebaixamento para todos os casos (vide Fluminense).
Sua torcida anda cabisbaixa, e parte dela, descontrolada -como disse a Gaviões (ave que se alimenta de presas vivas, segundo o Aurélio) da Fiel.
Caso exemplar foi esse da emboscada na Imigrantes. O que fizeram os dirigentes para proteger, como tanto gostam de falar de boca cheia quando o assunto é a lei Pelé, o maior patrimônio do clube, que são seus jogadores?
Os dirigentes apresentaram queixa na polícia? Não.
Por quê? Será que acreditaram na versão de que a Gaviões (que reivindica o direito de me representar como torcedor corintiano, o que eu dispenso) perdeu o controle sobre parte da Gaviões? Qual parte: do bico ou das garras?
Será que foi para ouvir essa versão que os dirigentes estiveram reunidos com a "torcida"?
Aparentemente, a única e enérgica providência tomada pelos dirigentes foi a de colocar panos quentes a um custo bem alto: os jogadores vão viver uma temporada de exílio em hotéis de Minas.
Afinal, o que é um cerco de paus, pedras e selvageria contra o elo maior que deve unir em comunhão dirigentes e torcida de um clube de futebol? Que lugar pode ocupar um mero incidente contra todo um destino de glórias? Vamos dar as mãos porque uma mão lava a outra. Será?
No fim, é compreensível. Os ódios podem ser aplacados pelo tempo e, no Brasil, tempo é sinônimo de impunidade.
O ódio foi desopilado contra os jogadores -que são passageiros e, melhor, podem ser vendidos com algum lucro oficial e oficioso (dizem).
Os dirigentes podem se lastimar: investiram tanto. Talvez seja um dos únicos times do mundo a contar com dez jogadores para quatro posições -a maioria em má fase.
Os dirigentes podem se lastimar mais. Afinal, trocaram o técnico -que, infelizmente, não anda em boa fase.
Os dirigentes podem se lastimar mais ainda e, para minha lástima, continuar no cargo, dando as cartas e o "um, zero, zero" -quem não se lembra do cem?
O Corinthians já foi símbolo de garra, de obstinação, de amor à camisa e de dirigentes folclóricos.
Hoje, é um caso exemplar de como a cartolagem amadora -com algumas pinceladas de marketing esportivo- pode ser desastrosa.
Pensando bem, o time até que pode escapar do rebaixamento e respirar aliviado com outra idéia genial da CBF: uma nova Copa, com os desclassificados, disputada em três turnos, com o campeão do segundo levando três pontos a mais para as finais. Melhor idéia ainda se existisse rebaixamento de dirigentes.
Pior de tudo é ter uma certa impressão de que, como estamos no Brasil, é mais fácil imperar o sarcasmo do que a racionalidade.
Pior. É só poder ficar imaginando que, com um mínimo de profissionalismo na gestão, a marca Corinthians pode valer tanto quanto vale um Barcelona.

Hoje, excepcionalmente, não publicamos a coluna de Matinas Suzuki Jr.

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