São Paulo, sábado, 18 de outubro de 1997
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Shell busca alternativas ao petróleo

NICHOLAS SCHOON
DO "THE INDEPENDENT"

A maior companhia petrolífera do mundo está seriamente interessada em energia "verde" e renovável. A surpreendente decisão da Shell de investir centenas de milhões de dólares em energia solar provavelmente não é um mero esforço de relações públicas, mas se deve ao fato de reconhecer que as jazidas de petróleo têm dia marcado para acabar.
Segundo a previsão com a qual a Shell trabalha, até o ano 2050 metade da energia usada no mundo virá de fontes renováveis como luz solar, vento, biomassa e água corrente, em oposição às fontes usadas hoje: petróleo, gás, carvão mineral e nuclear.
O grupo anglo-holandês disse que vai investir cerca de US$ 500 milhões nos próximos cinco anos para expandir sua capacidade de produção de células solares e para plantar árvores a serem queimadas em usinas elétricas. É uma mudança de enfoque que os ambientalistas vêm pedindo há muito tempo.
Jim Dawson, presidente da recém-criada Shell International Renewables, divisão para energia renovável, disse que nenhuma outra empresa está investindo tanto quanto a Shell em fontes de energia renováveis. Sua meta é conquistar pelo menos 10% do mercado mundial de células solares, ou fotovoltaica, até o ano 2005.
A decisão da Shell se deve principalmente às previsões que faz em relação às mudanças no quadro energético mundial nos próximos 50 anos. "Não reagimos automaticamente às pressões ambientalistas, mas ouvimos o que os grupos ambientalistas e outros têm a dizer", explicou Dawson.
A nova estratégia da empresa é semelhante à de outra grande empresa petrolífera britânica, a British Petroleum (BP), que investiu antes dela -e mais- na energia fotovoltaica. A BP já controla 10% do mercado, que hoje vale mais de US$ 900 milhões anuais e cresce cerca de 14% ao ano.
Cultivar árvores para queimá-las em usinas elétricas pode parecer uma maneira estranha de gerar energia "verde" renovável. Mas é isso o que ocorre, se as árvores derrubadas são substituídas por árvores pequenas, plantadas no mesmo ritmo. As árvores que estão crescendo podem absorver dióxido de carbono, o gás que mais ajuda a provocar o aquecimento global, que é gerado pela queima de carvão mineral, petróleo, gás e madeira.
Se as usinas elétricas utilizam madeira em lugar de combustíveis fósseis, e se novas árvores são plantadas constantemente para substituir aquelas queimadas nas usinas, não é liberado dióxido de carbono adicional.
A Shell já possui fazendas de árvores de crescimento rápido na América do Sul, África e Nova Zelândia, cobrindo uma área maior do que a zona metropolitana de Londres. A empresa se compromete a não retirar árvores de florestas virgens e, nos lugares em que houver agrupamentos de árvores nativas perto ou entre suas plantações de árvores, eles serão protegidos.
A Shell acredita que o maior mercado de fontes de energia renováveis estará nas áreas rurais dos países em desenvolvimento, onde muitas residências e estabelecimentos ainda não têm energia elétrica. Ela prevê construir casas cobertas de células fotovoltaicas, além de pequenas usinas elétricas locais que usarão madeira cultivada nas próprias regiões que atuam.
A organização ambientalista Greenpeace recebeu positivamente a nova estratégia anunciada pela Shell. "É significativo que ela esteja querendo alcançar a BP nessa área, mas só daqui a vários anos é que poderemos julgar a seriedade de seus esforços", disse o ativista Marcus Rand, que promove campanhas pela energia solar. "Tomara que 1997 marque uma virada."
Por enquanto, a Shell investe em energias renováveis apenas 1% de seus investimentos totais.

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