São Paulo, sábado, 18 de outubro de 1997
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DESMANDOS EM ALAGOAS

Alagoas é hoje um exemplo de alguns dos piores vícios brasileiros -os quais, porém, não são de modo algum privilégio desse Estado. Mas, no caso alagoano, o problema se apresenta de uma maneira espantosamente concentrada e violenta.
O Estado esteve há pouco próximo de uma confrontação armada; vem sendo vítima de desmandos de uma classe política afeita a comportamentos truculentos, para dizer o mínimo, e de uma elite que não se envergonha em se apropriar do dinheiro público, com a anuência ou a participação direta dos governantes.
O atual governador, Manoel de Barros, substituiu Divaldo Suruagy que, acossado por uma rebelião armada do funcionalismo, licenciou-se do cargo. Uma intervenção branca do governo federal impôs então um plano de emergencial de ajuda financeira ao Estado, sob a condição de que o novo governador cumprisse um programa de saneamento das contas públicas. Passados três meses do acordo, o governo federal anunciou anteontem a suspensão da ajuda. Argumentou que o governo alagoano deixou de cumprir o acordo em dois pontos essenciais: não privatizou estatais e não conseguiu rever os acordos imorais de isenção de impostos a usineiros, firmados quando Fernando Collor governou o Estado.
A situação alagoana continua se deteriorando. Além do colapso financeiro, da crise do funcionalismo, dos índices recordes de mortalidade infantil e de analfabetismo, o Estado vive uma espécie de lei da selva na política. Dos 27 deputados estaduais, 26 trabalham armados. Alguns portam metralhadoras em suas pastas e outros andam acompanhados por até 15 capangas armados. A ameaça do deputado João Caldas (PMN), de que "vai chover bala" se tentarem desarmá-lo, dá bem a medida do nível a que chegou a barbárie no Estado. O Planalto vinha agindo com cautela em relação a Alagoas. Espera-se que mantenha a decisão de não repassar recursos ao Estado enquanto não cessarem os desmandos.

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