São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Metrópole é a usina hidrelétrica do blues

EDSON FRANCO
DO ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO

Para os músicos surgidos nos grotões de Estados como o Mississippi, só havia duas saídas possíveis: Memphis e Chicago.
Nascidos no Mississippi, B.B. King e Elvis Presley se estabeleceram na primeira. Entre os anos 40 e 50, Muddy Waters, Buddy Guy, Magic Sam e Otis Rush adotaram a segunda e fizeram dela o centro de gravidade do blues atual.
Mas o talento de Chicago para atrair músicos existia desde o início do século. Isso porque a cidade abrigava estúdios das maiores gravadoras da época, como Victor, Columbia, Decca e Mercury.
Além disso, casas noturnas e teatros sempre abriram suas portas para os até então desconhecidos músicos vindos do sul.
Dinheiro para manter a indústria da música e da agitação noturna nunca faltou. Quando os EUA mergulharam na mais profunda crise, no final dos anos 20, Chicago mantinha sua saúde econômica com o câncer do gangsterismo.
Na década seguinte, a cidade tinha o prazer de abrigar shows de celebridades blueseiras do calibre de Big Bill Broonzy, Tampa Red, Arthur "Big Boy" Crudup, Sonny Boy Williamson e Lonnie Johnson.
Era uma época em que o blues de Chicago era tecnicamente simples, rústico e com um ritmo rural, de sotaque levemente country. Era tradição, sem tirar nem pôr.
O big-bang que fez da cidade a estrela maior de um sistema cujos satélites são ouvidos na MTV até hoje aconteceu em 1950.
Eletricidade
Naquele ano Muddy Waters gravou "Louisiana Blues", música que mantinha um pé na tradição, mas que acrescentava um até então inédito grau de excitação e sofisticação à performance. E, detalhe fundamental, inseria a guitarra elétrica no blues.
Nascia o blues urbano, e a Maxwell Street (no sul de Chicago) virou o polarizador dos negros pobres que saíam do sul com agruras na cabeça e uma guitarra na mão.
Por falar em Maxwell Street, essa rua é hoje objeto de litígio em Chicago. Com sua voracidade pela organização e limpeza, autoridades locais querem demolir as casas do lugar e erguer prédios modernos.
Os moradores preferem o lugar como está, ou seja, decadente, sujo e malconservado. Se quiser conquistar simpatia a sua causa, os moradores precisam fazer algo para evitar que aquilo que pode ser restaurado vire entulho.
Nos palcos, o blues de Chicago está bem e com uma ninhada de novos talentos prontinha para ocupar os postos hoje dominados por Buddy Guy e Otis Rush.
Em visita à cidade, confira o poder de fogo dessa geração nos shows de Carl Weathersby, Chris Cain, Lil' Ed, Johnny B. Moore e da banda Howard and the White Boys.

Texto Anterior: Moradores ilustres
Próximo Texto: Oferta de atrações gera dilema
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.