São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 1997
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Museu deixa o presente do lado de fora

EDSON FRANCO
DO ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO

A partir do centro de Chicago, há basicamente duas maneiras para chegar de carro ao Museu de História Afro-Americana DuSable.
A mais agradável delas acompanha as margens do lago Michigan. A mais educativa acontece pela Michigan Avenue.
Este segundo trajeto permite uma visita ao sul da cidade, pobre e com grande concentração de negros. Assim, antes de conhecer a história no museu, você tem uma noção sobre como vive hoje boa parte dos negros de Chicago.
No cruzamento da Michigan com a 56th Street, você entra à esquerda e começa a ver casas bem cuidadas e os primeiros brancos sobre bicicletas reluzentes.
É a região do Washington Park, no interior do qual está o DuSable.
O pomposo nome completo do museu sugere uma imersão completa e inquestionável na história dos negros nas Américas. Mas o acervo -formado por mais de 12.600 peças- decepciona.
E a falta de ordenamento -cronológico, geográfico ou qualquer outro- obriga o visitante a navegar à deriva no tempo e no espaço.
Logo depois de passar pela bilheteria, o visitante entra em um salão com máscaras, objetos rituais e artesanatos africanos.
Brasil
Na sala à direita, há uma desconexa exposição de artefatos que lembram a escravatura -inclusive o fato de o Brasil ter sido o último país das Américas a libertar os escravos-, mobiliário antigo e jornais com anúncios de vendas de escravos e algumas manchetes sobre atrocidades contra negros.
À esquerda da entrada, uma sala lembra Joe Louis (1915-81), boxeador que deteve o título dos pesados por 11 anos e 8 meses.
Além de luvas e objetos pessoais, essa sala revela a que ponto chegou a popularidade de Louis, que acabou virando marca de refrigerante energético e de goma de mascar.
O DuSable se dá melhor quando descreve eventos mais contemporâneos ligados à história dos negros nos EUA.
Exemplar é a exposição sobre Harold Washington Junior (1922-1987), primeiro prefeito negro de Chicago e que administrou a cidade de 1983 até a morte.
Além de uma reconstituição da sala de trabalho do prefeito, o museu expõe todos os prêmios que ele ganhou e mantém um audiovisual interativo com depoimentos discursos e o impacto da morte de Washington na cidade.
A área mais interessante do museu é aquela dedicada a mostrar o preconceito contra negros em anúncios, utensílios domésticos e até salas de aula.
Ali você conhece a cartilha que alfabetizava crianças americanas contando a história de dez negrinhos, que vão morrendo no decorrer da história.
Vê também a imagem de negra gorda impressa ou moldada em saleiros ou apoios para talheres. Há ainda fotos retocadas para aumentar o grau de miserabilidade.
O museu DuSable foi fundado pela historiadora da arte Margaret Burroughs, em sua própria casa, em 1961.
Para batizar a instituição, ela resolveu homenagear o comerciante de peles negro Jean Baptiste Pointe DuSable. Ele foi o primeiro cidadão nascido fora das Américas a se instalar, em 1779, na região que hoje chamamos de Chicago.
(EF)

Museu de História Afro-Americana DuSable: 740 East 56th Street, tel. (001-312) 947-0600. Funciona de segunda a sábado, das 10h às 17h, e aos domingos, das 12h às 17h. Ingressos: US$ 3 (adultos), US$ 2 (crianças de 6 a 13 anos). A entrada é gratuita às quintas-feiras

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