São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 1997
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Encontro da Anpocs discute mudanças nas ciências sociais

Para a presidente, surgiram novos objetos de estudo

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais) promove entre hoje e sexta-feira, em Caxambu (MG), seu 21º Encontro Anual.
Serão quatro conferências, três fóruns, 11 mesas-redondas e 17 seminários temáticos.
Sua presidente, Elisa Reis, 51, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFJR (Universidade Federal do Rio de Janeiro), afirma não acreditar que os cientistas políticos representem atualmente um foco de resistência ao neoliberalismo.
Segundo ela, surgiram novos objetos de estudo, como as mudanças nas relações de trabalho permitidas pelos computadores.
Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista à Folha.
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Folha - As ciências sociais estariam hoje resistindo às mudanças radicais que o mundo sofreu nos últimos dez anos?
Elisa Reis - As ciências sociais foram surpreendidas por algumas dessas mudanças. Mas a reação não foi defensiva. Há uma série de novos enfoques e especializações que procuram dar conta do que está acontecendo.
Folha - Dê um exemplo.
Elisa - No caso das relações de trabalho, a informática permitiu o surgimento de maneiras completamente novas de inserção. No século 19, trabalhar na fábrica era novidade. Hoje, a novidade é trabalhar em casa, longe da empresa, com um terminal de computador. Esse trabalhador tem uma interação com a família e com a vizinhança completamente diferente.
Folha - Não haveria um excesso de preocupação com os excluídos?
Elisa - É só uma das discussões.
Folha - Os cientistas políticos tradicionalmente se dividiam entre liberais e de esquerda. A divisão não persiste, com partidários e adversários do neoliberalismo?
Elisa -Isso pode até acontecer, mas não é hoje a tônica. Outras disputas têm maior visibilidade.
Folha - Qual seria a tônica?
Elisa -Vejo hoje um debate em cima de questões analíticas, como a oposição entre individualismo e comunitarismo. Não é um debate político, mas metodológico.
Folha - Falou-se em sociedade civil e em seguida em sua crise.
Elisa -Esse conceito tem muitas nuances. Originariamente, sociedade civil nada tinha a ver com mercado. Foi assim com Marx. Na Polônia dos anos 80 mercado e sociedade civil se tornaram sinônimos, mas como algo positivo.

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