São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 1997
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Alunos querem alterar currículo

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A reivindicação por mudanças urgentes nas escolas médicas se transformou numa das palavras de ordem do movimento estudantil. Nos últimos encontros nacionais de estudantes de medicina (Denem), esse foi o assunto principal. Dez dias atrás, o tema dominou o congresso da Associação Brasileira de Ensino Médico (Abem), realizado em Uberaba (MG).
Na quinta-feira passada, a chapa "O grito", que defende mudanças no currículo, venceu a eleição do Caoc, o Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, da Faculdade de Medicina da USP.
"Vivemos no país da diarréia e da esquistossomose, mas damos maior atenção para doenças raras e complexas", diz Tatiana Zorub de Paula Assis, 21, terceiranista da faculdade e eleita para a coordenadoria de ensino médico da nova chapa.
Mariana Spadini dos Santos, 19, segundo ano, eleita vice-presidente do Caoc, diz que a escola deve se aproximar da comunidade. "Só tivemos duas aulas em postos de saúde", afirma. "Lá você vê a realidade do paciente, sabe como vive, quais suas condições de higiene. Aqui no Hospital das Clínicas você aprende qual remédio receitar. Lá no bairro você sabe se o paciente tem condições de comprar e de tomar este remédio." Para a diretoria do Caoc, o estudante precisa estar em contato com a realidade, "aprender a tratar o paciente, e não apenas o órgão".
Os estudantes reconhecem que a Faculdade de Medicina da USP está entre as escolas que mais mudanças estão fazendo. O "currículo nuclear", por exemplo, que está sendo introduzido, permite uma formação mais humanística do estudante.
"Nossa função é apressar as mudanças, porque a tendência do professor é conservar o que vem sendo feito", diz Tatiana.
Os estudantes acham que o currículo induz o aluno a se especializar, deixando em segundo plano a clínica médica. As empresas de medicina de grupo também seriam culpadas pela empobrecimento da relação médico-paciente.
Entre as propostas da chapa eleita, está a participação dos alunos no programa "universidade solidária", que trabalha em favelas, e a realização de pesquisa para saber o que os estudantes esperam da faculdade e que futuro pretendem para eles. "O médico precisa retomar sua função em caráter de urgência", diz Tatiana. Sob pena de -segundo os estudantes- virar um assalariado cada vez menos remunerado e menos respeitado.
(AB)

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