São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 1997
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Líderes dão má notícia em pequenas doses

RODRIGO VERGARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os momentos que sucederam o anúncio da aprovação do projeto do vereador Natalício Bezerra (PTB), que extingue o serviço de lotações na cidade, foram os mais tensos do dia de ontem em frente à Câmara Municipal.
O anúncio foi feito às 20h09, por um dos locutores do carro de som trazido à frente do prédio do Legislativo por uma associação de perueiros. A pessoa que falava ao microfone comunicou a má notícia em pequenas doses, tentando evitar que os ânimos se acirrassem.
"Vamos entrar com um mandado de segurança para garantir o trabalho. Não adianta sair para cima dos policiais, que também estão trabalhando. Precisamos manter o apoio da população", disse Jairo Zuki, perueiro que tem linha intermunicipal e não foi atingido pelo resultado da votação.
"Ê, ê, ê, Natalício vai morrer", gritavam os manifestantes, enquanto batiam nas placas de sinalização e nas portas das lojas. Eram 20h16. A polícia formou dois cordões de isolamento e proibiu a imprensa de se aproximar. No segundo cordão, a Folha presenciou a orientação dada aos policiais. "Quem passar do primeiro (cordão), é para descer o pau."
O clima de tensão durou quase uma hora. Os locutores tentaram injetar esperança na massa. "Calma pessoal, nem tudo está perdido. Se o projeto do (vereador) Salim Curiati for aprovado, o lotação está garantido." "Mentira, mentira, mentira", responderam os motoristas de lotação.
Os locutores apelaram também para a ameaça de um conflito com a polícia. "Vocês já viram como é com os sem-terra. Os caras (policiais) atiram e matam, porque é obrigação deles."
A tensão foi se reduzindo aos poucos, e muitos manifestantes deixaram o local. O cordão de isolamento foi desfeito por volta das 22h. O trânsito no viaduto Jacareí foi liberado às 22h40. O primeiro veículo a passar por ele foi um táxi.
O dia de ontem em frente à Câmara foi marcado por um clima de ansiedade e por informações desencontradas.
Às 19h, o carro de som já havia anunciado três vezes o início da votação. "Atenção, pessoal: neste exato momento, vai começar a votação", disse um manifestante ao microfone, às 17h10.
"Já começaram a votar contra nós", foi a informação às 17h15. Cinco minutos depois, os alto-falantes retransmitiam uma emissora de rádio informando que a votação nem sequer estava perto de começar. Ela só ocorreu às 20h.
Não foram apenas os manifestantes que tiveram informações desencontradas durante o dia.
Os próprios parlamentares diziam não saber o que estava acontecendo."Nem eu estou entendendo mais nada", afirmou o vereador Bruno Féder (PPB).
Durante todo o dia, vários projetos foram anunciados e abandonados em seguida pelo presidente da Câmara Municipal, Nelo Rodolfo (PPB), e pelo líder do governo Hanna Garib (PPB).
Eles tentavam encontrar uma forma legal para sustar o decreto que criou o serviço e, ao mesmo tempo, cumprir a promessa de manter na legalidade os perueiros já credenciados.
A cada anúncio, porém, argumentos lançados pela oposição derrubavam a proposta e os vereadores do PPB voltavam a se reunir.

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