São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 1997 |
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Nossa Caixa faz Florspanca mudar de prumo
BARBARA GANCIA
Minha amiga politicamente correta Florspanca Esbelta resolveu aproveitar a oportunidade. Vendeu o carro e tirou um dinheirinho da poupança. Juntou a quantia necessária e pagou os cinco anos de prestações que ainda lhe restavam. Esperava que Esbelta estivesse radiante por ter realizado o sonho tapuia. Qual nada. Para festejar a nova proprietária do château, um dois cômodos na Vila Mandioquinha, convidei minha engajada amiga para tomar um copo de vinho (nacional, claro, a fim de evitar algum discurso inflamado sobre a relação entre o beaujolais e a opressão dos "campesinos" do Cone Sul). Durante a celebração, me dei conta de que a alegria de Florspanca nada tem a ver com a posse do imóvel. "Minha maior satisfação não é ter quitado a dívida. É ter me livrado do contato mensal com aquela corja da Nossa Caixa." Não é que, por uma vez, o raciocínio de Florspanca comunga com o meu? Diz ela que, durante os anos em que pagou as prestações, nunca recebeu o extrato no prazo certo. "Todos os meses era obrigada a ir pessoalmente a uma agência da Caixa fazer o levantamento do número do contrato para efetuar o pagamento", resmungou. "E percebi que a má vontade dos funcionários acaba gerando filas de deixar o Bradesco parecido com um pacato banco do Canadá." Partindo de uma defensora dos paradigmas dos partidos dos trabalhadores da vida, a constatação quase me manda para o Incor. Disse-me ainda Florspanca que o cheque encerrando a dívida já saiu de sua conta. Mas o documento de quitação só deve chegar às suas mãos dentro de dois ou três meses. Contou-me também que, outro dia, na fila da Caixa, uma funcionária corpo mole mandou uma pobre cliente tirar "xerox autenticado": "A coitada não tinha idéia do que estava sendo dito. Se, para gente escolarizada, essas burocracias são complicadas, imagine para quem mal sabe ler". Wim Wenders e aprendendo. Para transformar em capitalista um militante de esquerda, basta passar alguma coisa em seu nome. Nem que seja um apê na Vila Mandioquinha. Texto Anterior: Câmara extingue serviço de lotações Próximo Texto: Recuerdos; Dá-lhe Poli!; Surto cibernético Índice |
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