São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 1997
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As saídas para o setor de autopeças

LUÍS NASSIF

O câmbio está ruim, a política monetária é cruel. Como a coluna antecipou há um mês e meio, os índices de inadimplência explodiram e o desemprego se acentuou.
Mesmo assim, as empresas que estão conseguindo definir um plano estratégico objetivo e mudando seus paradigmas de maneira inteligente estão conseguindo espaço quase inédito para crescer. Mesmo em um setor problemático, como é o de autopeças.
É o caso da Wiest S/A, pequena empresa catarinense, cujo "case" foi uma das principais atrações de seminário recente sobre o setor de autopeças, promovido pela agência "Dinheiro Vivo".
A empresa é de 1947 e especializou-se na fabricação de escapamentos e sistemas de exaustão para veículos -conhecidos por "surdina" no Rio Grande do Sul. Quando começou a crise do setor, em 1990, o grupo tinha duas empresas de capital aberto -a Sismec S/A e a Metalúrgica João Wiest S/A, sendo controladas pela Wiest (empresa de capital limitado).
Além da retração do mercado, houve aumento real de 50% no preço do aço, como consequência da privatização da Usiminas. De 1990 a 1993 a empresa manteve uma operação deficitária. Em 1994, começou a dar a volta por cima.
No período de crise, teve que repensar toda a parte técnica, de processos, de administração. Para acelerar a reestruturação, a empresa passou a atuar em duas áreas.
A primeira, foi na busca de parceiros para joint ventures. A empresa percebeu que o novo paradigma da indústria automobilística seria a fabricação de conjuntos integrados. A empresa produzia longarinas -um dos componentes do chassis. Para produzir o chassis completo, foi buscar uma parceria com a Dana, dos Estados Unidos, representada pela Dana Brasil, formando a Simesc-Parish Ltda., onde a Dana tem 60% e a Wiest, 40%. A associação com a Dana permitiu à empresa mudar-se para Osasco (SP) e preparar-se para iniciar uma nova planta em Curitiba, para fornecer os chassis montados para a Volvo.
Na análise de oportunidades de joint ventures, a empresa -que atua fortemente no mercado de reposição- se deu conta de que uma das tendência dominantes, no mercado internacional, era o choque de competição no setor de serviços.
Decidiu criar a Wiest Autopeças Ltda., que conquistou a franquia da Midas International Corporation -a maior empresa de reparos de automóveis do mundo, do tipo "under car" (sistemas de exaustão, amortecedores, suspensão, freios, alinhamentos e trocas de óleo), serviços rápidos, com sede nos Estados Unidos e presença em 17 países.
Abertura de capital
A segunda frente foi a busca de acionistas. Fechou-se o capital das duas empresas, e abriu-se o capital da holding, que passou a ser a controladora, permitindo uma dimensão mais adequada para o mercado de capitais.
A ida ao mercado foi precedida de mudanças substanciais na cultura da empresa. Os controladores retiraram-se para o conselho de administração, e passaram a cuidar exclusivamente dos planos estratégicos da companhia. Novos acionistas -fundos de pensão nacionais e estrangeiros- foram convidados a compor o conselho.
Como o capital não era suficiente para o pregão normal, a empresa passou a se valer do Meta (Mercado de Empresas Teleassistidas) da Bolsa de Valores de São Paulo.
Nas empresas controladas, a gestão passou às mãos de executivos profissionais, que definem planos no início de cada ano, e tocam o dia-a-dia sem interferências da família.
Os acionistas recebem todas as informações que solicitam. E a Wiest sabe que há um longo caminho de investimentos, que conseguirá trilhar se mantiver a confiança de seus investidores.
Resultados
Nos últimos cinco anos o faturamento do grupo saltou de US$ 16,5 milhões para US$ 43,5 milhões -sem contar a produção de longarinas, com a Dana. Apenas em 1996 o grupo investiu US$ 6,8 milhões, mais do que um mês de faturamento.
É um exemplo maiúsculo do horizonte que se abre para as empresas que conseguem entender o novo momento e proceder a reciclagens inteligentes de seus antigos paradigmas.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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