São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 1997
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Modalidade muda para continuar viva

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O teste com uma nova regra, que limita o tempo de duração dos sets, é a tentativa que a Federação Internacional de Vôlei está fazendo para manter o esporte vivo.
É o que diz o mexicano Rubén Acosta, 63, presidente da FIVB, sobre a permissão para que torneios como a Superliga, que começa no sábado, adotem uma regra polêmica no vôlei do Brasil.
Com a nova regra, os sets terão 25 minutos ou 15 pontos. Passado o limite de tempo, se ninguém chegar aos 15 pontos, entra em vigor o sistema de tie-break.
"Não podemos ter jogo de três horas, três horas e meia. Se não der certo essa fórmula, buscaremos outra. O vôlei precisa evoluir para continuar atraindo público, TV."
Dirigente da FIVB desde 84 (antes, presidiu a Confederação Mexicana por 18 anos), Acosta, ex-jogador, juiz e treinador, prepara-se para concorrer a novo mandato, na eleição de novembro de 98.
Em entrevista à Folha, o homem que comanda o vôlei no mundo também critica os times no Brasil. Se (os times) não forem reorganizados, a Superliga vai continuar perdendo público, diz.
"O time deve ter o nome de uma cidade, um bairro ou um clube. Se não damos razão para o público se identificar, ele não vai ao ginásio."
*
Folha - Por que a FIVB está tentando implantar a limitação de tempo nos sets?
Acosta - É um problema que estamos estudando há mais de 25 anos. Desde 1971, 72, temos investido e não temos encontrado soluções, porque a tendência tradicional é manter o vôlei tal como se joga sempre. Isso nos tem levado a ter partidas de três horas, três horas e meia. Temos perdidos em muitos países a possibilidade de transmissão por televisão.
No Japão, a solução que as TVs encontraram é de interromper a partida depois de uma hora. Isso não é bem visto na América Latina e em muitos outros países, porque nós, latinos, gostamos de ver as coisas ao vivo e direto. A solução que nos pareceu mais prática é essa que vamos testar no Japão (na Copa dos Campeões, em novembro).
Folha - A CBV estará usando essas regras na Superliga. Os técnicos dizem que elas poderão favorecer a pratica do antijogo. O que o senhor pensa a respeito disso?
Acosta - Deu muito trabalho implementar o tie-break (no qual cada disputa de bola vale um ponto). Depois que o usamos em uma competição internacional, tornou-se uma necessidade. Estamos na etapa de encontrar soluções.
O que os técnicos devem fazer é colocar propostas para eliminar as possíveis desvantagens que encontrem com a limitação de tempo. Já se usou no Cazaquistão. O resultado foi positivo. O Brasil pode saber antes dos outros o resultado e tomar vantagem.
Folha - Quanto de público o vôlei perdeu nos últimos anos por conta da longa duração das partidas?
Acosta - Perdemos horas de transmissão de TV em muitos países. Não conseguimos entrar na Europa por esse problema de não saber quanto demora uma partida.
Folha - Mas o melhor campeonato do mundo está na Europa. A FIVB não estaria atendendo somente a uma exigência das TVs?
Acosta - O Campeonato Italiano tem transmissão, mas é impossível a TV italiana exibir partidas longas. Nós, como qualquer esporte, precisamos da TV. Mas precisamos de público no ginásio. Uma partida longa se torna difícil de assistir. O vôlei precisa evoluir se quiser continuar forte, vivo.
Folha - O vôlei não pode ser desvirtuado com as novas regras?
Acosta - Há grande anseio de encontrar uma saída. Se tivermos dificuldades, não a implantamos, tentaremos outra solução.
Folha - Aqui, no Brasil, o público da Superliga tem diminuído...
Acosta - E assim vai seguir sendo se não fizermos algo. Eu vou sugerir ao Ary (Graça Filho, presidente da CBV) que os patrocinadores tenham direito a levar o nome na camisa à frente e atrás.
O nome da equipe dever ser de alguma cidade, um bairro ou de algum clube onde as pessoas se identifiquem. Se não damos uma razão para se identificar com a equipe, eles não vão ao ginásio.
Folha - Os patrocinadores aceitariam essa condição?
Acosta - Vão aceitar. Às empresas, o que mais interessa é ver sua imagem na TV. Se a TV não transmite porque não dá público, isso afeta as empresas.
Folha - Qual a posição do vôlei perante os outros esportes?
Acosta - Temos mais de 800 milhões de praticantes no mundo. É o esporte que mais se pratica. Agora, o futebol está nos alcançando, e não sei se vão nos passar. Mas tem uma coisa: o futebol quase não é praticado por mulheres.
Folha - A inclusão do líbero foi a última modificação que se fez no vôlei antes das novas regras. Ele será usado de forma definitiva?
Acosta - O líbero será usado na Liga Mundial e no Grand Prix. E vamos apresentar à apreciação do congresso acerca de sua utilização em torneios mundiais. Depois, todos aqueles que quiserem podem incluí-lo em suas competições.
Folha - Por que implantar a nova regra nos torneios da FIVB somente após o Mundial do Japão em 98? Acosta - Após o Mundial, teremos que pedir ao congresso autorização para usarmos o novo formato. Por isso, o próximo torneio (Copa dos Campeões, também no Japão) servirá de testes. De acordo com os resultados e com que nos apresentar o Brasil, discutiremos como apresentar ao congresso.
Folha - A FIVB anunciou uma verba de US$ 4 milhões para o próximo Circuito Mundial de vôlei de praia. É possível concorrer com a AVP (Associação dos Jogadores Profissionais) dos EUA?
Acosta - Não é questão de concorrer com a AVP. Acredito que a função de cada país é promover um campeonato interno que permita a seus atletas se sustentarem. Trabalhamos para que não exista só o circuito da FIVB ou da AVP, mas que cada país tenha o seu.
Folha - O torneio na Califórnia, há um mês, nos domínio da AVP, com jogadores das duas entidades, não foi uma demonstração de força dos norte-americanos?
Acosta - Não, porque não jogamos com as regras deles. Jogamos com regras da FIVB. E jogamos só depois que a AVP reconheceu que somos o organismo que rege o vôlei no mundo. Queriam que Anjinho e Loyola jogassem pelos EUA. Os dois só jogaram porque representaram o Brasil.
Folha - Por que não se consegue implantar uma liga forte nos EUA?
Acosta - Lá, o vôlei está nas mãos de pessoas que têm um conceito de recreação e não projetam o vôlei profissionalmente. Estou lutando para que esse conceito mude. Brasil e Itália são exemplos.
Folha - O presidente da Confederação Brasileira não permitiu que a seleção feminina disputasse o Grand Prix, alegando que se tratava de um torneio que só " enchia os bolsos da FIVB".
Acosta - O Grand Prix foi o fator que permitiu o lançamento internacional da seleção feminina do Brasil. Acho que sua ausência não foi benéfica para a seleção. Outros não têm a mesma opinião que ele.
Folha - Há interesse no Brasil e no exterior na contratação de jogadores cubanos. Há possibilidade de eles jogarem em outros países?
Acosta - Negociamos com a federação local e, já em 98, os jogadores serão autorizados a jogar fora. Eles têm projeto de estabelecer a liga nacional de Cuba. Se isso se consolida, vão fazer uma equipe imbatível em muitas categorias.

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