São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 1997
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Paris discute o que vestir no século 21

ERIKA PALOMINO
DA ENVIADA ESPECIAL A PARIS

Mudam os ventos da moda. A temporada de lançamentos de primavera-verão 98 do prêt-à-porter de Paris termina em clima de novidades no front.
Menos preocupados desta vez com veleidades como comprimentos de saias ou calças, estilistas e mídia especializada se perguntam o que será da moda no século 21. Marca pontos quem consegue ter alguma pista, longe das meras constatações de tendências.
Uma das indicações é o que se pode chamar de o novo corpo. Como na corrente discussão do universo das artes e da fotografia (experimental e fashion), trata-se de transformar o corpo (de novo) em campo de batalha para considerações estéticas e sociais.
O estopim foi aquela coleção "corcunda de Notre Dame" da marca Comme Des Garçons, onde inesperados volumes desconcertaram o meio de moda. Para este verão, a coisa se expandiu.
As armas são drapeados, dobras e até o caráter dimensional das roupas -Martin Margiela mostrou sua coleção em cabides, chapada, nas roupas seguradas por homens em jalecos e com o uso de vídeo.
O vestido, a maneira de tratar a silhueta feminina e os novos materiais são outras chaves desta temporada. Combinando os três aspectos, estão os japoneses Issey Miyake e Junya Watanabe. Miyake criou delicadas crisálidas, mulheres "mumificadas" em gaze branca, como num casulo, como se o corpo fosse envelopado por uma outra pele, definiu o estilista.
Também numa das histórias de mais êxito desta estação, o jovem Alver Elbaz acerta em sua segunda coleção para Guy Laroche e embrulha suas modelos em vestidos de tule branco, enquanto Ann Demeulemeester redefine os contornos da elegância urbana ao fundir tailoring, o sagrado como referência e o corpo político como vocabulário de moda -nos braços, grandes luvas em "second skin" inscrevem as palavras "right arm" ou "left arm".
Também político, o midas austríaco Helmut Lang trabalha com algodão e seda para plissar e soltar. "O volume ainda respeita o corpo, mas a consciência do corpo se foi", disse ao jornal "WWD".
Para contrapor aos brancos, pretos e cremes (o cinza já entra com tendência) que compõem o repertório moderno, cores intensas e duras como o azul elétrico e os fluos, como usados por Martine Sitbon. A estilista fez um dos mais aclamados desfiles da temporada, em que lampejos de fúcsia, rosa, vermelho, azul e amarelo entram em sua palheta para se opor a momentos mais pesados da coleção.
Uma atitude intencionalmente falhada, quase improvisada sobre a roupa aparece como saída para o minimalismo. Yohji Yamamoto retorceu alças e tecidos, fazendo "moulage" como ninguém em suas calças e vestidos negros.
Mas não se trata de desconstrutivismo ou pauperismo. Nesta temporada tudo tem que ser de boa qualidade. Basta ver o sucesso de Alexander McQueen e, sobretudo, de John Galliano, que inunda de sonho, luxo e riqueza o indistinto horizonte do Planeta Fashion.

A jornalista Erika Palomino viajou a Paris a convite da marca Kenzo.

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