São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 1997
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Militantes ganham espaço

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Dois anos atrás, o cineasta americano Spike Lee dizia, em entrevista à Folha, que os atores negros de seu país raramente são premiados com o Oscar porque, "em primeiro lugar, não ganhamos os papéis nem as oportunidades para isso. Quanto menos papéis, menos oportunidades. Não temos as mesmas chances de indicação".
A tirar pelo número de destaques nas produções recentes, oportunidades parecem não faltar ao elenco "afro-americano" de Hollywood. Morgan Freeman, Denzel Washington, Danny Glover e Samuel Lee Jackson são apenas algumas das estrelas negras com lugar assegurado no céu do cinema ianque.
Filmes como os inéditos "Amistad" e "Beijos que Matam" põem Freeman de novo no centro do estrelato. Indicado três vezes ao Oscar -de ator em "Dirigindo Miss Daisy" e "Um Sonho de Liberdade"; e de ator coadjuvante em "Street Smart"-, só não passará da indicação ao prêmio se Hollywood insistir na discriminação.
Nem se pode dizer que a premiação de Cuba Gooding Jr. este ano, na categoria de ator coadjuvante por "Jerry Maguire", compense o que outros atores negros já deveriam ter ganho.
Parece que o mais difícil de Hollywood engolir é a mistura de cinema com militância. Todos os grandes atores negros usam, de maneira mais ou menos incisiva, o cinema como espaço para a militância. O próprio Denzel Washington ("Malcolm X"), mais desvinculado do estigma, já acusou de racismo o cineasta Quentin Tarantino, por usar demais a palavra "nigger" (pejorativa para negro) em seus filmes.
Um dos atores negros mais militantes é Danny Glover ("Máquina Mortífera 3"), festejado pelos movimentos negros americanos por ser fiel à "comunidade".
Com frequência, Glover faz leituras públicas de textos de Martin Luther King e de poemas de Langston Hughes, poeta negro considerado o símbolo literário do "renascimento do Harlem", bairro de maioria negra em Nova York.
Seja como for, parecem estar abertas novas oportunidades para o elenco negro, ainda que, por muito tempo, não faltem a eles os papéis de sempre -atleta, marginal ou líder da "comunidade"-, nos filmes de sempre, uma "Revolta no Harlem" qualquer ou um "Faça a Coisa Certa" qualquer.

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