São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 1997 |
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Menem admite a sua volta em 2003
CLÓVIS ROSSI
O improvisado âncora acabou retratando com fidelidade o espírito do momento em uma única frase: "Volto em 2003" (o ano em que a Argentina elegerá o sucessor do sucessor do presidente Carlos Menem). Até a semana passada ainda flutuava no ar, alentada pelo próprio Menem, a hipótese de que ele pudesse tentar obter um terceiro mandato. Em viagem ao Vaticano, um jornalista italiano lembrou a Menem um ditado local que diz que "não há dois sem três". "É um belo ditado", reagiu Menem. Na segunda-feira, no entanto, em entrevista exclusiva ao matutino "Clarín", o presidente argentino repetiu três vezes a palavra "nenhuma" ao falar da possibilidade de nova reeleição em 1999. Fechou o ciclo com o "volto em 2003", no canal 2. O pré-99 Mas os argentinos estão com os olhos postos não em 2003 e, sim, no próximo domingo, quando se renova metade da Câmara de Deputados. "Estas eleições são pré-presidenciais, porque quem vencer terá mais possibilidades no pleito de 1999. Além disso, elas determinarão os presidenciáveis para este momento", afirma Rosendo Fraga, um respeitado analista político argentino. O próprio Menem, no início do mês, já havia dito a seus aliados íntimos que quem quiser ser presidente em 1999 "deve ganhar esta eleição". É por isso que se tornou chave a disputa na Província de Buenos Aires, a de maior eleitorado do país. Presidenciáveis O atual governador e principal presidenciável peronista, Eduardo Duhalde, impôs como cabeça de chapa sua mulher, Hilda "Chiche" Duhalde, virgem em disputas eleitorais. Avaliação do analista Rosendo Fraga: "Duhalde se fortalece se vencer, mas se enfraquece muito se perder, nem que seja por um único voto, em qualquer das hipóteses." Faz idêntico raciocínio outro presidenciável governista, o ex-piloto de Fórmula 1 e atual senador (por Santa Fé) Carlos Reutemann: "Se perder, terei de repensar o futuro." O terceiro presidenciável peronista é o ex-cantor brega e governador de Tucumán , Ramón "Palito" Ortega, que já ensaia o discurso eleitoral. Reclama "políticas sociais mais vigorosas do que as que se implementaram até agora, para ajudar uma classe social que ainda vai demorar para inserir-se na transformação econômica". É justamente esse o eixo do discurso da Aliança, a coalizão criada em agosto entre os dissidentes peronistas da Frepaso (Frente País Solidário) e a UCR (União Cívica Radical), o mais tradicional partido argentino. Estrelas ascendentes na coalizão: Fernando de la Rúa, prefeito de Buenos Aires (a capital), distrito em que os aliancistas ganharão folgadamente, e a senadora Graziela Fernández Meijide, rival dos Duhalde na equilibrada disputa pela Província de Buenos Aires. Se a Aliança ganhar no cômputo nacional, outros nomes da oposição estarão na disputa pela candidatura em 1999: o deputado Carlos "Chacho" Álvarez (Frepaso), com reeleição garantida na capital; o presidente nacional da UCR, o jornalista Rodolfo Terragno; e, mais remotamente, Raúl Alfonsín, o antecessor de Menem na Presidência e coordenador-geral da Aliança. Alternância no poder Se é cedo para definir candidaturas, não o é para constatar que a formação da Aliança criou "um fato político que abre a possibilidade de uma alternância no poder", como afirma Miguel Ángel Broda, o guru preferido de dez entre dez empresários argentinos. Entende-se, assim, mais facilmente o "volto em 2003" do presidente-âncora Carlos Menem. Próximo Texto: Di Pietro é absolvido em tribunal da Itália Índice |
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